É cada vez mais frequente a manifestação de fundamentadas preocupações com a interferência de grupos criminosos nas disputas político-eleitorais. É algo que se espalha sorrateiramente por todo o país, gerando deformações graves nas disputas.

A presença forte de agiotas em campanhas já há um bom tempo é visível a olho nu, como visíveis também são seus deletérios efeitos em gestões que ficam amarradas a nada republicanos e ilegais compromissos. Instala-se uma cadeia que se bem apurada com certeza resultará noutra cadeia, aquela que é destino de criminosos.

Milícias e até facções criminosas mostram a cara na cena política, como bem podem demonstrar os exemplos especialmente no Rio de Janeiro. E se mostram com desenvoltura tal que vão se naturalizando, compondo a paisagem como algo normal.

Acresça-se a isso os efeitos das enxurradas de dinheiro oriundo de orçamentos secretos que irrigam campanhas e se estabelecem num balcão tão ilegal quanto imoral. Diz-se que tem até “corretor” de emendas que por aí desfilam afortunadamente.

Forma-se assim um combo de ilegalidades que desafiam a democracia ao mesmo tempo que degradam a política, a desqualificam gravemente. Estabelece-se um ciclo vicioso de graves consequências.

Diante disso é extremamente necessário um esforço convergente do próprio campo político e suas instituições para que se assegure a saúde do sistema eleitoral e se preserve a democracia. A tão elevada missão de exercer atividade política e assumir missões de comando da gestão pública não pode ser conspurcada e até vilipendiada pela ação criminosa.

Um ciclo virtuoso na política requer atenção dos partidos, das instituições, especialmente aquelas a quem compete fiscalizar e fazer cumprir as leis.

O assalto da política pelo crime tem que ser combatido energicamente.

No exercício efetivo da política é que se constroem mecanismos de proteção da própria política, razão pela qual os partidos e as instituições do Estado, notadamente aquelas do sistema de justiça, estão desafiados a estabelecer democraticamente formas de proteção da livre e soberana manifestação da vontade popular através do voto.

A política contra o crime, sempre; e jamais o crime na política.

* Márcio Jerry é jornalista e deputado federal pelo PCdoB do Maranhão. Texto publicado originalmente em O Imparcial.