Bolsonaro em modo pânico
A Operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal às vésperas do Carnaval, trouxe materialidade ao que já se desconfiava: de fato, houve uma tentativa de golpe de Estado, colocada em marcha com planos e ações, a fim de subverter o resultado eleitoral e manter Jair Bolsonaro no poder.
O desfecho não foi esse por uma série de fatores, principalmente porque as instituições e parcelas relevantes das Forças Armadas foram resilientes aos ataques e tentativas de cooptação, infiltração ou submissão feitas pelo então presidente e seus acólitos.
A robusta decisão que autorizou as medidas tomadas na Veritatis não deixa dúvidas: a linha foi cruzada, integrantes do governo anterior passaram da retórica golpista, já grave per si, às ações preparatórias para uma ruptura de fato.
É o que demonstra a cronologia dos acontecimentos. Uma reunião ministerial (gravada!) debate formas para desacreditar as urnas e a Justiça Eleitoral, fala-se em “virada de mesa” e infiltração de agentes em campanhas; depois vem o famoso encontro com embaixadores e, com a derrota consumada, seguem a conspirata no Palácio a debater decretos presidenciais para anular as eleições e prender o presidente do TSE, articulações e pressões sobre oficiais para que aderissem à aventura golpista.
Tudo isso, lembremos, em meio a acampamentos em frente aos quartéis, ataque à sede da Polícia Federal e a tentativa de explosão de um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília. Como se vê, o 8 de janeiro não foi um passeio e muito menos fato isolado. A implicação de Bolsonaro resta provada por delação de seu braço direito, acompanhada de provas fartas e contundentes.
Por isso, o ato convocado não é demonstração de força ou coragem do ex-presidente. Muito ao contrário, revela fraqueza, isolamento, pânico. Com isso não quero dizer que a micareta será esvaziada. Tenho consciência de que o bolsonarismo ainda tem força social, mas fiquemos calmos, pois não haverá uma insurreição e nem a paralisação do País.
No dia seguinte, a vida seguirá – e com ela, a marcha implacável das investigações, depoimentos e processos. Outras delações devem vir, mais materiais colhidos nas buscas e apreensões servirão de provas para elucidar os fatos, novas medidas cautelares poderão ser impostas, até que, num belo dia… toc-toc-toc.
Depois da Veritatis, a situação jurídica do ex-presidente parece ter chegado a um ponto de não retorno: não é mais “se” e sim quando ele pagará pelos crimes contra a ordem democrática. Bolsonaro está no modo pânico.