No próximo dia 09 de maio comemoram-se os 70 anos da Grande Vitória e do desfecho final da Segunda Guerra Mundial no embate entre soviéticos e alemães e a tomada de Berlim. Até hoje os russos e outros povos da então União Soviética denominam esta guerra como a Guerra Patriótica, fazendo do dia 9 de maio sua festa mais importante, o dia da glória nacional e do orgulho popular, amplamente comemorado.

A guerra de perdas irreparáveis é um triste marco da história da humanidade. Segundo dados de estudiosos do Instituto Russo de Estudos Estratégicos, a guerra do povo soviético contra os invasores nazistas durou 1418 dias, tendo perdido um infindável número de vidas humanas, que pode chegar a 30 milhões de indivíduos, dos 50 milhões perdidos durante toda a Segunda Guerra Mundial.

A contraofensiva do Exército Vermelho na Segunda Guerra foi iniciada em 1942 na famosa Batalha de Stalingrado. A batalha, que durou 200 dias, foi a maior e a mais sangrenta da história. Cerca de um milhão de soldados e oficiais soviéticos foram mortos ou feridos, enquanto o exército nazista perdeu um quarto de suas forças, cerca de 800 mil homens, entre alemães e países aliados. Das ruínas de Stalingrado começou a trajetória até a vitória de 1945.

A caminho das áreas petrolíferas do Cáucaso estava Stalingrado e os alemães acreditavam ser apenas mais um obstáculo a ser transposto. Ocorre que esbarraram na incrível resistência dos defensores da cidade que lutavam até a morte.  Em um dos trechos do diário de um soldado alemão, William Hoffman, encontrado em Stalingrado, ele descreve: “23 de agosto. Temos uma ótima notícia: nossas tropas chegaram ao Volga e tomaram parte da cidade. Os russos têm apenas duas opções: recuar ao longo do rio Volga ou se render. Na verdade, verificamos algo incompreensível. Enquanto nossas tropas do norte tomaram a cidade e chegaram ao Volga, as divisões russas no sul continuam resistindo duramente. Eles são fanáticos…”.

Carlos Drummond de Andrade, em trecho do poema Carta a Stalingrado, nos diz: À tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos, apalpo as formas desmanteladas de teu corpo, caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos, sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?   Uma criatura que não quer morrer e combate, contra o céu, a água, o metal, a criatura combate, contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate, contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate, e vence.

Todos sabem que o sucesso de Stalingrado ou do Cerco a Leningrado, e tantas outras batalhas da Segunda Guerra na ex-União Soviética, deve-se ao envolvimento da população civil. E, também por isso, esta comemoração dos 70 anos deve ser um tributo ao povo soviético. Aos seus veteranos de guerra e às famílias que sacrificaram sua história em nome da paz mundial. Fica também uma homenagem às mulheres como Marina Mikhailovna Raskova que criou de uma só vez três regimentos femininos de aviação para atuar na defesa de Moscou, Stalingrado e Kursk, tendo realizado cerca de 9 mil missões e abatido 38 aviões inimigos.
Nossa homenagem também à Força Expedicionária Brasileira, constituída em 9 de agosto de 1943 para lutar ao lado dos países Aliados na Segunda Guerra, contando ao todo com um efetivo de um pouco mais de 25 mil homens envolvidos, dos quais 454 soldados mortos nos campos de batalha na Itália.

No próximo dia 9 de maio, durante o desfile do Dia da Vitória na Praça Vermelha, o mundo estará de novo com os olhos voltados para Moscou. Será uma celebração especial pela inevitável despedida dos veteranos da guerra que, pela idade avançada, provavelmente já não estarão nas próximas comemorações. Particular também pela nova conjuntura política mundial cada vez mais multipolar. Os chefes de Estado que estarão ao lado do Presidente Putin neste dia estarão dando um recado ao mundo, de que o hegemonismo dos Estados Unidos choca com os novos caminhos trilhados pelos países em desenvolvimento, em que o avanço dos BRICS e seus mecanismos de cooperação econômica, tal como o banco dos BRICS, cuja participação brasileira proximamente aprovaremos nesta casa, ressoa como um grande exemplo.

De coração, todos que somos amantes da paz e da emancipação humana lá estaremos. Pois, para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça, é preciso reverenciar a paz e os que deram a vida na sua conquista.

 

*Deputado federal pelo PCdoB-CE, com colaboração de Ana Prestes .