Viva os historiadores!
“A história é um carro alegre cheio de um povo contente, que atropela indiferente todo aquele que a negue”. (Canção para a unidade da América Latina)
O Congresso Nacional fez história e justiça em 12 de agosto de 2020 ao derrubar o veto do presidente Bolsonaro ao Projeto de Lei que reconhece a profissão de Historiador. Presto aqui a minha homenagem aos historiadores deste País. Esse saber já regulamentado passa agora ao reconhecimento da sua profissionalização.
Regulamentar a profissão é essencial para determinar a necessidade de método, investigação, estudo e técnica lastreada na ciência para conectar fatos históricos, ligar o passado ao presente, analisar causa e efeito e definir quais são os personagens mais importantes e quais precisam ser registrados.
Os historiadores passam agora a ter a consideração que não tiveram por parte do Presidente da República que, talvez, por uma vocação negacionista, pelo empirismo, pela ação deletéria em relação a fatos históricos e pela influência que tem de revisionistas da história, vetou esse projeto de profissionalização dos historiadores do Brasil.
Felizmente, o Congresso Nacional reverteu a decisão presidencial e fez o que era justo e certo. A partir desse reconhecimento, ganhará nova força a busca por fatos históricos que precisam ser registrados e elevados aos olhos do povo: como o 2 de Julho na Bahia (batalha final da luta armada que travou o Brasil pela sua independência durante quase um ano), a Revolta dos Malês, a Balaiada, a Sabinada, a Cabanagem, a Guerra dos Farrapos, a Revolta da Chibata, a Guerra de Canudos e tantas outras grande lutas que estão cravadas no seio e na memória do povo lutador brasileiro.
Sem dúvida a história é turbulenta e ela precisa de quem se dedique a explorá-la, de quem esteja apto a contar os fatos do passado e também daqueles que ocorrem no presente. A profissionalização vem numa excelente hora, porque estamos a fazer história. Precisamos contar a história dos nossos povos originários, dos autóctones brasileiros, dos indígenas, ainda tão massacrados nos dias de hoje por esse governo que lhes quer tomar as terras e que de modo absolutamente perverso, lhes negou socorro na pandemia, recusando a oferta de medicamentos, hospitais e até acesso à água potável.
Devemos registrar historicamente o momento atual em que um governo federal passa a ser absolutamente dominado pelo mercado, disposto a conduzir todo tipo de privatizações e de retirada de direitos da população. Vivemos o tempo de um Governo algoz do povo, que entrega a Nação todos os dias.
Esse governo abandonou seu povo à própria sorte no meio de uma pandemia e se concentrou em entregar o patrimônio brasileiro ao invés de salvar vidas. No dia da marca dolorosa dos 100 mil brasileiros mortos e 3 milhões de famílias enlutadas chamou a imprensa apenas para anunciar ajuste fiscal e arrocho. Foi incapaz de se solidarizar com seu povo nesse dia triste e oferecer dinheiro suficiente para que o sistema de saúde enfrente essa crise.
Não permitiremos que, mais uma vez, tentem passar a borracha na história. A ditadura fez o que pôde para apagar a memória da Nação brasileira, destruindo fatos históricos e os pilares da educação. Nós tivemos que lutar para restaurar a memória do Brasil e vamos continuar abrindo os olhos e os braços para a ciência, para a educação e para a perspectiva de futuro.
Compreendo que a possibilidade de reconstrução dos relatos históricos em bases científicas tornará este um país com história que assim poderá construir relações futuras de paz, de desenvolvimento, de saúde e, sem dúvida, de democracia.
Parabéns, historiadores brasileiros!
* Alice Portugal é deputada federal pelo PCdoB da Bahia e vice-líder da Minoria na Câmara dos Deputados