O significado da “queda” de Cunha pelo STF
Obviamente que a decisão tomada (ainda) em caráter liminar pelo STF, que decidiu afastar Cunha da Câmara dos Deputados, é uma medida aguardada e que deve ser saudada por todos os brasileiros que (verdadeiramente) estão comprometidos com a luta contra a corrupção e pela democracia. Afinal de contas, trata-se do pior presidente desta Casa desde o período da redemocratização brasileira. Alguém que desrespeita o país e qualquer noção de república, fazendo de sua vida institucional um claro mecanismo de locupletação do dinheiro público e transformava as prerrogativas de seu cargo em mecanismos de pressão e imposição de sua vontade e de seus interesses. Ademais, demonstrava não ter qualquer apreço por nossos valores democráticos, tendo orquestrado reiterados golpes e manipulações na condução dos trabalhados na Casa, sempre para valer seus (inconfessáveis) interesses e daqueles que os prestavam suporte e que, DESTAQUE-SE, planejaram e tornaram possível a sua eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. Portanto, a sua "queda", apenas pode causar espanto por sua demora, diante de tantas e expressivas motivações.
Contudo, deve-se ficar atento para o papel que o evento também "joga" para o desdobramento da atual crise política. Ora, manter o Eduardo Cunha na presidência, sob o silêncio retumbante do STF, era algo que estava ficando pesado demais para o stablishment que vem orquestrando o golpe institucional em curso. Estava ficando insustentável! Não havia mais como explicar ou retrucar as acusações (comprovadas) de que Cunha é moralmente inidôneo (para ser eufêmico), que representava uma contradição absurda ter ele, nessa condição, conduzido o processo de votação de impeachment na Câmara, de uma presidenta que não possui qualquer acusação, sem que ainda, sequer, ter sido apreciado pelo TCU as alegadas práticas orçamentárias irregulares e, pior, não deixar de causar um sentimento de enorme temor aos brasileiros, diante da possibilidade de que ele sempre iria assumir a presidência do país, nas ausências de Temer, em um possível governo (ilegítimo) do PMDB.
Assim, o ambiente político no país evoluía para uma pressão insuportável e "algo" precisava ser feito para que esse ingrediente fosse eliminado de cena. E é bem por isso, que Cunha não deverá ter apoio pra voltar a presidir a Casa, afinal de contas, já fez o seu "trabalho sujo" e até representa um alívio para as diversas frentes que comandam o golpe (senhores da grande mídia, dirigentes de partidos interessados em derrotar e acabar com a esquerda, entidades de classe que alimentam ódio aos movimentos sociais e causas progressistas, dentre outros).
Esses são aspectos que não podem passar despercebidos de nossas análises. Contudo, é evidente, a queda de Cunha também representa uma clara demonstração de que os aspectos que vimos denunciando em relação ao enredo golpista são inquestionáveis. Assim, se Cunha caiu por uma decisão de um ministro do STF, motivado por denúncias, é porque o teor das mesmas são verdadeiras. Ou seja, Cunha é corrupto, é moralmente inidôneo, é manipulador, usava das prerrogativas de presidente pra pressionar deputados e tentar livrar-se do processo de cassação que peleja pra evoluir na Comissão de Ética e que, por isso, agiu por vingança ao aceitar e conduzir o processo de impeachment na Casa. Todos esses aspectos o tornam incompatível para presidir a Casa, indicando que a decisão do Plenário da Câmara é inválida (é fruto de uma árvore envenenada, como dizem os juristas). Aliás, o próprio ministro Eduardo Cardozo, já indicava que por ter agido com "desvio de finalidade" (no exercício da presidência), o processo deve ser anulado.
*Professora Marcivânia é deputada federal pelo PCdoB do Amapá