É hora de agir: A Palestina e o Líbano não podem mais esperar
Semana passada, li um artigo de opinião num grande jornal brasileiro que tratava as investidas de Benjamin Netanyahu sobre o povo palestino na Faixa de Gaza. Procurei a palavra “genocídio” no texto. Nenhum resultado. Mas me pergunto: como alguém pode falar dessa tragédia, resultante da aliança criminosa do imperialismo norte-americano com o sionismo, desconsiderando os fatos que batem à nossa cara todos os dias? Um despejar de milhares de toneladas de bombas sobre um país sob apartheid, que despedaça milhares de corpos de crianças, mulheres e idosos? Os brilhos e sons da destruição e dos gritos de dor não são cenas de um jogo eletrônico. São reais!
O artigo reflete uma opinião que, infelizmente, muita gente ainda enxerga como verdadeira. Enquanto isso, palestinos – e agora também libaneses – continuam a morrer aos milhares, de explosão, fome ou doença. Não há no texto nenhuma palavra sobre o pedido de procuradores do Tribunal Penal Internacional, feito em maio à Corte de Haia para que expeça um mandado de prisão contra Netanyahu por seus crimes contra a Humanidade. O TPI age lentamente, mas já admitiu ser plausível a acusação de genocídio em Gaza, agora expandido ao Líbano, onde os ataques israelenses já fizeram três mil vítimas fatais, deixaram mais de 20 mil feridos e centenas de vilarejos e cidades sem rastro de vida. Já há mais de 1,2 milhão de pessoas deslocadas de suas casas – entre elas, mais de 400 mil crianças.
Os números atordoam. Os bombardeios em Gaza já são maiores que os ataques nazistas a Dresden, Hamburgo e Londres na da Segunda Guerra Mundial juntos. Os mortos contabilizados (fora os que ainda estão debaixo de escombros) são mais de 42 mil – 17 mil deles, crianças. Se sobreviverem ao genocídio, mais de 3,5 mil pessoas viverão o resto de suas vidas com ao menos um braço ou perna amputada. Sem contar os traumas, permanentes e indeléveis, de viver o horror absoluto 24 horas por dia. É essa a história que Israel está exportando para o Líbano e, se não for parado, a todo o Oriente Médio. A quantas tragédias humanitárias provocadas por Netanyahu o mundo assistirá em silêncio?
Israel é um estado assassino e precisa ser responsabilizado por seus crimes. É preciso reagir a isso com a maior contundência possível para desmascarar a imagem (xenófoba, racista) do “estado democrata” perpetuada na mídia hegemônica. No próximo mês, o Brasil sediará o G20, a reunião das principais economias globais. Será uma oportunidade de chamar a atenção do mundo para os crimes contra a humanidade perpetrados por Israel. Começamos a articular uma série de ações na última quinta-feira, quando uma comitiva de deputados federais e estaduais do Rio de Janeiro se reuniu no Consulado Geral do Líbano.
Estive presente, ao lado dos deputados federais Reimont (PT), Chico Alencar (PSOL) e das deputadas estaduais Dani Balbi (PC do B), Elika Takimoto (PT) e Marina do MST (PT) e do deputado estadual Luiz Paulo Correa da Rocha (PSD), além dos ex-deputados Jorge Bittar (PT) e Nilton Salomão (Cidadania), do presidente da CONFELIBRA, Dr. Roger Hanna Bassil, e do Bispo da Igreja Ortodoxa RJ, Dom Theodore Ghandour. Ouvimos do cônsul Alejandro Bitar suas preocupações crescentes com a situação dos libaneses, que têm no Brasil sua maior comunidade em todo o mundo.
Foi um gesto de apoio e solidariedade ao povo libanês, extensivo à população palestina, e também um chamado à ação. Pois a cada minuto que permanecemos em silêncio, mais e mais pessoas são mortas, feridas, humilhadas e expulsas de suas casas nestes países. O momento é mais do que crítico, e a reação mundial precisa interromper esta barbaridade.
Já existem algumas reações. Semana passada, o premiê da Espanha, Pedro Sánchez, pediu que países da UE suspendam acordos de livre comércio com Israel. O presidente Lula, primeiro líder mundial a denunciar o genocídio, deve vetar a compra de material bélico israelense. Na sexta-feira passada, especialistas da ONU divulgaram documento com a recomendação de que países apoiadores de Israel sejam considerados cúmplices do massacre. No mesmo dia, a organização Nihon Hidankyo, que reúne sobreviventes dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, comparou a situação em Gaza ao Japão de 1945. O grupo acaba de receber o Prêmio Nobel da Paz.
Mas não haverá paz possível no Líbano e na Palestina se muito mais vozes não se unirem a estas. Por isso, o grupo presente no Consulado estabeleceu seis ações a serem tomadas em solidariedade a estes países nas próximas semanas. Estas ações servem para que o discurso que trata Israel como “democracia” e Netanyahu como um “vitorioso” deixem de reverberar sem contraponto à altura. O mundo está cansado de ver as cenas terríveis causadas pelas forças israelenses. A agenda sionista criminosa de Israel, aliada e sustentada pelo imperialismo dos Estados Unidos, não interessam às nações soberanas do mundo. O sofrimento de nossos povos irmãos exige urgência e amplitude em torno de suas bandeiras. Por isso, exigimos:
Cessar fogo já!
Paz no Oriente Médio!
Líbano soberano e livre!
Palestina soberana e livre!
*Jandira Feghali é deputada federal pelo PCdoB do Rio de Janeiro, vice-presidente nacional do PCdoB. Artigo publicado originalmente na Carta Capital.