Conforme já era aguardado, o inelegível Bolsonaro fica calado durante depoimento à Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (22). Ele e vários membros do governo anterior são acusados de tentar um golpe de Estado e a abolição do Estado Democrático de Direito.

Parte dos que iriam depor, no mesmo dia e horário de Bolsonaro, decidiu adotar a mesma estratégia do chefe como o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e o ex-ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto.

Outros como o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, e o presidente do partido de Bolsonaro, o Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, resolveram falar.

Contudo, a estratégia de ficar calado ou simplesmente mentir terá pouco efeito diante da robustez das provas que já são de conhecimento público ou que ainda serão reveladas.  

De acordo com o jornal O Globo, a PF já sabe que Bolsonaro “analisou e alterou” a minuta de um decreto golpista encontrada na residência de Anderson Torres.

A PF também descobriu que Bolsonaro enviou R$ 800 mil para um banco dos Estados Unidos em dezembro de 2022. O propósito era se manter naquele país até a consumação do golpe.

No vídeo, encontrado no computador do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, Bolsonaro não deixa dúvida sobra sua dinâmica golpista: “Eu vou entrar em campo usando o meu exército, meus 23 ministros. E emendou: “Nós não podemos esperar chegar 23, olhar para trás e falar: o que que nós não fizemos para o Brasil chegar à situação de hoje em dia?”.

Bolsonaro também pressionou seus ministros na sua campanha para desacreditar o sistema eleitoral: “Daqui pra frente quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar ele vai vim falar para mim porque que ele não quer falar. Se apresentar onde eu estou errado eu topo. Agora, se não tiver argumento pra me ti… demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Tá no lugar errado. Se tá achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar como ganhei em 2018, e vou provar”, afirma.

Repercussão

Parlamentares acreditam que, diante das provas, o caminho de Bolsonaro já está traçado. “SILÊNCIO GRITANTE. Jair Bolsonaro entrou mudo e saiu calado de seu depoimento à Polícia Federal. Mas o que o presidente tenta esconder as muitas provas e testemunhos de sua culpa no processo golpista revelam. Que, após o devido processo legal, ele e todos os golpistas que estiveram hoje na PF paguem por seus crimes. Sem anistia!”, escreveu no X a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), era de se esperar que Bolsonaro ficasse calado no depoimento. “Quando Lula foi interrogado em Curitiba, em 2017, ele respondeu a todas as perguntas e se manteve de cabeça erguida em frente ao seu algoz. O inelegível sabe de todos os crimes que cometeu e que atentou contra a democracia. Lugar de criminoso é na cadeia!”, defende.

“Bolsonaro chegou à sede da PF com essa cara de cobra que perdeu o veneno. O golpista covarde quer ficar em silêncio, mas as provas falam por si mesmas”, observa o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).

O líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), afirma que é preciso não se enganar com o silêncio. “O ex-presidente descredibilizou as instituições, incentivou ataques a autoridades, enalteceu torturadores e ditadores e planejou um golpe de Estado. Também não esqueça: golpistas não defendem democracia, em nenhuma hipótese!”, diz.

“Para as vítimas da Covid, risadas e ofensas. Para a Polícia Federal, silêncio. Bolsonaro é, acima de tudo, um covarde”, critica o senador Humberto Costa (PT-PE).