Entidade publicou nota em que afirma que as ameaças de morte e “estupro corretivo” recebidas pela parlamentar gaúcha são inadmissíveis.

A União dos Negros e Negras pela Igualdade (Unegro) publicou uma nota nesta quinta-feira (31) em solidariedade à deputada Daiana Santos (PCdoB-RS) pelas ameaças de morte e de “estupro corretivo” recebidas pela parlamentar na última semana.

No texto, a entidade repudia os ataques e afirma que este tipo de ameaça não pode ganhar corpo na sociedade.

Confira a íntegra do texto:

A UNEGRO (União dos Negros e Negras pela Igualdade) vem repudiar e denunciar a violenta ameaça de “estrupro corretivo” que a deputada federal Daiana Santos, representante do PCdoB gaúcho, vem sofrendo juntamente com parlamentares de vários estados da federação, a exemplo de Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Não há nenhuma dúvida no que diz respeito à gravidade da ameaça, uma vez que enseja um crime bárbaro perpetrado contra corpos e gêneros dissidentes, com incidência direta sobre a população LGBTQIAPN+. Não há nenhuma dúvida de que esse tipo de ameaça criminosa é uma forma covarde de reação à presença de pessoas subalternizadas nos espaços de poder e em diversos fóruns de expressão pública.

Tal reação ganhou escala com a assunção e consolidação de uma “guerra civil” em que o neofascismo pretende suprimir as formas-de-vida que não obedeçam ao padrão branco-macho-conservador-cristão-evangélico-heteronormativo-neoliberal. Não podemos esquecer a institucionalidade regressiva que devassou a civilidade brasileira nos quatros anos de desgoverno Bolsonaro, sancionando discursos e práticas dessa natureza: “a minoria vai ter que se curvar à maioria”, bradou a família Bolsonaro, no discurso da eleição de 2018.

Embora sabemos que, por ser covarde, esse tipo de ameaça muitas das vezes acaba se dissipando nas malhas do digital, é preciso prestar atenção aos seus desdobramentos, é preciso avistar o propósito violento nela contida, pois um enunciado discursivo desse feitio acaba autorizando práticas criminosas no tecido social, na vida como ela é. Não podemos esquecer que é pela enunciação que se dá o primeiro passo para o ultraje, o silenciamento, a violência (física, moral e simbólica), a eliminação das/es/os indesejadas/es/os. Disso dão testemunho massacres recentes e antigos de nossa história: judeus foram designados como vermes parasitas pelo nazismo, pessoas negras são chamadas de macacas, mulheres, frequentemente de galinhas, gays, viados – qualificativos que nos tiram da comunidade humana. Aprendemos com a filosofia política e as ciências da linguagem que: “o que nos faz humanos é a que nós humanos não é dado o direito de tudo dizer”, porque tudo dizer equivale a tudo fazer.

No Estado Democrático de Direito práticas como essa devem ser repudiadas por toda a sociedade e não apenas pelos grupos diretamente atingidos, pois a evocação de estupro corretivo constitui-se em flagrante rompimento do pacto civilizatório e, fundamentalmente, constitui-se em flagrante perseguição a uma parlamentar de esquerda, negando-lhe o direito à existência.

A deputada federal Daiana Santos é uma mulher negra lésbica que vem, com tais marcadores, propondo mudanças não apenas para sua comunidade de pertencimento, mas a toda a Nação brasileira. O seu assento na Câmara Federal representa uma conquista e um avanço. Nós, da UNEGRO, nos solidarizamos a ela e não aceitaremos,
sob hipótese nenhuma, que seja alvo de práticas regressivas que atentam contra a sua integridade e, acima de tudo, contra os ideais de emancipação do nosso país. Exigimos que tal crime seja apurado e os criminosos punidos.
A você, deputada Daiana Santos, e a todas as parlamentares, nosso apoio e compromisso de sempre!

UNEGRO (União de Negros e Negras pela Igualdade)