Pela primeira vez, cinco meses após escândalo contábil das Americanas vir a público, o presidente da empresa, Leonardo Coelho Pereira, admitiu fraude de antigos executivos e detalhou o esquema nas demonstrações financeiras. Segundo ele, a crise na varejista não pode mais ser tratada como crise de inconsistências contábeis.  Ele disse que chegou a essa conclusão, após ter acesso a relatório de investigação independente sobre as finanças da companhia.

“Essas evidências que me foram trazidas ontem (12/06) não mais me permitem como CEO das Americanas tratar como inconsistência contábeis”, reiterou o executivo em audiência pública na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a fraude nas Americanas.

Diante dos novos fatos, segundo ele, duas decisões foram tomadas pela direção da empresa: demitir 30 funcionários vinculados à fraude; compartilhar o relatório com autoridades envolvidas nas investigações, entre elas a CPI, o Ministério Público, Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Polícia Federal.

Membro do colegiado, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) afirmou que diante das declarações do CEO das Americanas, a empresa foi dirigida por uma quadrilha.

“Observando com muita atenção cada palavra dita pelo senhor Leonardo Coelho Pereira, o que parece é que uma quadrilha dirigiu as Americanas, em conluio, inclusive, com auditoria e com bancos. Fiquei perplexo de observar fraude nos documentos internos. Portanto, ao que parece, é muito mais do que uma fraude contábil. Ao que parece, uma quadrilha dirigiu uma das principais empresas do varejo do Brasil. Daí a responsabilidade de ter essa comissão parlamentar de inquérito para adotar mecanismos, medidas que aperfeiçoe a legislação no Brasil para que uma armação da proporção que foi produzida aqui não se repita”, destacou o parlamentar na reunião.

As fraudes e lançamentos indevidos encontrados nas demonstrações financeiras das Americanas e informados pela companhia nesta terça-feira (13), somam mais de R$ 40 bilhões em números preliminares e não auditados. O valor considera também operações de crédito e financiamento contabilizados de forma inadequada no balanço da varejista. A empresa está em recuperação judicial, após encontrar o rombo contábil no início deste ano.

Segundo a empresa, as fraudes nas demonstrações financeiras se davam por meio da chamada Verba de Propaganda Cooperada (VPC) — uma quantia negociada entre a indústria e o varejo e que serve, entre outras coisas, para cobrir eventuais custos com publicidade e propaganda.

Além disso, de acordo com a Americanas, também foram encontradas operações de crédito e financiamentos feitos pela companhia junto a instituições financeiras e fornecedores que não foram contabilizados de forma adequada.

Demissões

Durante a audiência, o deputado Orlando Silva falou ainda de sua preocupação com demissões em massa e aumento de ações trabalhistas, sem que a empresa tenha caixa para fazer pagamentos na justiça.

“Aqui esteve um representante sindical indicando que há medidas no Ministério Público do Trabalho determinando guarda de recursos para dar causa à remuneração no caso de vitória desses trabalhadores”, observou o parlamentar.

Pereira informou que, neste ano, houve aumento de 100 reclamações trabalhistas, resultado em total de 900, o que é motivo de preocupação para a administração da empresa. Ele reforçou que objetivo natural é a manutenção de empregos que, segundo ele, não oscilou apesar da crise.

Em maio de 2022, a Americanas contava com 40.500 funcionários; um ano depois, empregava 40.300 funcionários. As cinco mil demissões, explicou o CEO, são típicas da sazonalidade das empresas de varejo.