Após ter recebido críticas por usar o funeral da rainha Elizabeth II para fazer campanha, o presidente Jair Bolsonaro (PL) transformou a Organização das Nações Unidos (ONU) em palanque de sua campanha pela reeleição ao discursar nesta terça-feira (20) na abertura da 77ª Assembleia-Geral em Nova York (EUA).

Bolsonaro listou ações do governo em favor da sua candidatura, como a criação do Auxílio Brasil e a redução de impostos que levou à queda do preço dos combustíveis, além de atacar seu principal adversário nas urnas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que hoje lidera as pesquisas de intenções de voto.

Sem fazer menção nominal a Lula, Bolsonaro atacou gestões petistas e disse que o governo acabou com a "corrupção sistêmica" que, para ele, existia no país, citando as denúncias de corrupção envolvendo a Petrobras.

Em outra passagem com tom de campanha, o chefe do Executivo destacou os atos do bicentenário da Independência do Brasil, celebrado em 7 de setembro. “Foi a maior demonstração cívica da história do nosso país, um povo que acredita em Deus, Pátria, família e liberdade”, afirmou.

Também fez uma defesa de sua gestão no enfrentamento à pandemia de Covid-19, dizendo que “não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos”.

Reações

O uso eleitoral da ONU pelo presidente/candidato gerou indignação entre diplomatas estrangeiros e também repercutiu mal no Brasil.

Segundo o colunista do UOL Kennedy Alencar, Bolsonaro contou, pelo menos, 11 grandes mentiras durante o discurso nas Nações Unidas.

Em sua conta no Twitter, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) condenou o tom de campanha e enfatizou o aspecto mentiroso da fala presidencial.

“Eu até ia comentar o discurso do inominável na ONU, mas é tanta mentira que não sei nem por onde começar… Só digo que é a fala de quem está desesperado. Fez campanha em Londres e agora está fazendo campanha em NY. Aqui não cola mais”, escreveu.

Em seu discurso, o presidente e postulante à reeleição tentou ainda dialogar com o eleitorado feminino no Brasil, no qual a rejeição ao seu nome é uma das maiores. Segundo ele, o governo tem dado prioridade à "proteção das mulheres" durante o atual mandato.

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) rebateu a afirmação, lembrando que Bolsonaro passou os quase quatro de mandato “agredindo mulheres jornalistas”. “O MENTIROSO NA ONU teve a cara de pau de dizer que é o governo que mais defende as mulheres”, postou na rede.

“É o Brasil paralelo em modo desespero eleitoral. Vai mentir lá no cercadinho!”, completou.

Nações Unidas

Por tradição, o Brasil é o primeiro país a discursar na sessão de debates da Assembleia Geral da ONU desde a décima edição, em 1995. Antes, em 1947, o diplomata brasileiro Osvaldo Aranha já tinha sido o primeiro orador na 2ª Assembleia Geral, que foi presidida por ele.

O tema da 77ª Assembleia Geral da ONU este ano é "Um momento divisor de águas: soluções transformadoras para desafios interligados". A chamada "semana de alto nível" do evento – quando participam chefes de Estado, ministros e secretários – se estende até a próxima segunda (26).

Antes de Bolsonaro, discursaram nesta terça na abertura do evento Antonio Guterres, secretário-geral do órgão, e Csaba Korosi, presidente da assembleia.