Após ataque às urnas, Bolsonaro é chamado abertamente de golpista
Não há mais meio termo para avaliar os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro. Trata-se de atitude golpista. A gravidade da reunião com embaixadores no Palácio da Alvorada, onde ele acusou a existência de fraude nas urnas eletrônicas, sem nenhuma prova, causou reações duras no parlamento, na sociedade, na mídia nacional e internacional.
Entre os movimentos mais significativos estão o de procuradores, juízes e policiais federais que cobraram do procurador-geral da República, Augusto Aras, uma investigação sobre a conduta do presidente. Mais de 40 procuradores de todo o país assinaram um documento de repúdio ao ataque de Bolsonaro às urnas eletrônicas.
Os partidos de Oposição (PT, PSol, PCdoB, PDT, Rede Sustentabilidade, PSB e PV) protocolaram nesta terça-feira (19), no Supremo Tribunal Federal (STF), uma notícia-crime pedindo investigação contra Bolsonaro por várias transgressões. A Rede e PCdoB representaram no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) solicitando a condenação de Bolsonaro por propaganda irregular.
O comunicado da Casa Branca ao governo brasileiro ganhou grande destaque na mídia local. Os Estados Unidos consideraram o sistema eleitoral brasileiro um modelo para o mundo.
Boletim de mídia da Fundação Perseu Abramo também relatou nesta quarta-feira (20) uma subida de tom da mídia corporativa.
“A Folha destaca em manchete de capa: Bolsonaro cometeu crimes em discurso. Em editorial o jornal dá nome aos bois: Presidente golpista. E ataca: ‘Bolsonaro barganha com Congresso liberdade para atacar a democracia; isso tem de acabar’, observou.
Segundo o jornal, Bolsonaro cometeu abuso de poder, previsto pela lei complementar 64, de 1990, conhecida como lei das inelegibilidades, ao atacar o sistema eleitoral, falando à rede estatal e usando as redes sociais para compartilhar suas declarações.
“Bolsonaro proferiu diversas mentiras já desmentidas sobre as urnas. O presidente ainda repetiu teorias da conspiração e desacreditou outros pontos do sistema eleitoral, promovendo novas ameaças golpistas e atacando ministros do STF”.
Com destaque na capa da edição desta quarta-feira, o francês Le Monde noticia que Bolsonaro torpedeia o sistema eleitoral, diante de embaixadores estrangeiros. O britânico The Guardian relata que o ataque de Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro gera indignação.
O New York Times diz que Bolsonaro reuniu diplomatas estrangeiros para apontar dúvidas sobre eleições no Brasil. E o argentino Clarín replicou a reportagem do NYT com o seguinte título: “Bolsonaro pediu a diplomatas estrangeiros que questionem as eleições no Brasil”.
Fracasso de Bolsonaro
Na avaliação da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Bolsonaro fracassou na sua tentativa de vender teorias conspiratórias para embaixadores. “Nos bastidores, vários consideraram o governo brasileiro como reprodutor de ‘táticas trumpistas’ e a Embaixada dos EUA deixou claro que ‘o país tem um forte histórico de eleições livres e justas’, com transparência e altos níveis de participação dos eleitores”, disse.
Lembrou ainda que as Forças Armadas não compareceram, deliberadamente, ao festival de mentiras. “Mais um sinal de que cresce o mal-estar dos militares com o governo Bolsonaro. No Poder Judiciário, é quase unanimidade a disposição de resistir contra os arroubos golpistas do presidente”, considerou a deputada.
“Ontem, 43 procuradores federais dos 26 estados e do Distrito Federal enviaram ao procurador-geral da República, o silencioso Augusto Aras, um pedido de investigação contra o presidente. No campo político institucional, a despeito da omissão do presidente da Câmara, deputados da Oposição entraram com petição ao STF para que Bolsonaro seja investigado por crime contra as instituições democráticas, crime eleitoral, de responsabilidade, propaganda eleitoral antecipada e ato de improbidade administrativa”, relacionou.
Por fim, a deputada disse que é preciso mobilizar opinião pública, ampliar vozes pela liberdade e avançar na construção de frente ampla em defesa da democracia e da Constituição.