O ex-ministro da Justiça Anderson Torres, preso no 4º Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) acusado por omissão e conivência com os atos golpistas do 8/1, também está sendo investigado pela Polícia Federal (PF) por tentar sabotar o segundo turno das eleições presidenciais.

De acordo com a coluna de Malu Gaspar, de O Globo, a PF apura uma operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), planejada pelo ex-ministro, para impedir o comparecimento às urnas dos eleitores de Lula no Nordeste.
O inquérito tenta reconstituir, segundo a colunista, a forma como o governo Bolsonaro se preparou para sabotar o adversário petista no segundo turno.

Essa investigação somada a minuta do golpe encontrada na residência do ex-ministro deixa a situação de Torres ainda mais complicada.

Interlocutores não descartam a possibilidade dele de fazer uma deleção premiada contra Bolsonaro. O ex-ministro, inclusive, afastou da sua defesa advogado ligado ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

A PF já apurou que, no final da manhã da quarta-feira 26 de outubro, Torres e seus assessores se reuniram com o superintendente da Polícia Federal na Bahia, Leandro Almada, e seus dois assessores diretos, os delegados Flávio Marcio Albergaria Silva e Marcelo Werner Derschum Filho.

Na reunião, o ex-ministro pediu que a PF ajudasse a PRF na operação que parariam todos os veículos que transportassem eleitores. Ele disse que sua pasta havia recebido muitas denúncias de compras de voto por petistas no Nordeste.

“Para ele, só isso explicava a grande diferença entre a votação de Lula e a de Bolsonaro no primeiro turno. Na Bahia, Lula tinha tido 5,8 milhões de votos (69,73%), contra 2 milhões (24,31%) do então presidente”, diz a coluna.

O plano não deu resultado por causa da ação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que após intensa movimentação da PRF, intimou o “diretor-geral da corporação a interrompê-la, sob pena de multa e afastamento do cargo”. A PF da Bahia também não se empenhou no plano.

Repercussão
Para a líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Jandira Feghali (RJ), o ministro tem muito a se explicar. “As novas descobertas da Polícia Federal mostram que o ex-ministro de Bolsonaro, que foi preso após os ataques golpistas de 8 de janeiro, também é suspeito de tentar sabotar, com a operação da PRF, os eleitores de Lula no segundo turno das eleições presidenciais. Anderson Torres, que já tinha muito o que explicar, agora precisa dar mais essa justificativa à Justiça e à sociedade”, afirmou a líder.

“Mais uma semana começa e mais crimes do esquema bolsonarista são revelados. Fizeram de tudo para impedir a manifestação soberana do povo, utilizaram a máquina pública criminosamente. Punição exemplar pra esse bando de golpistas”, cobrou o deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA).

Integrante da bancada federal da Bahia, o deputado Daniel Almeida (PCdoB) lembrou as dificuldades enfrentadas por eleitores baianos no segundo turno da eleição.
“Às vésperas do segundo turno de 2022, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres veio até a Bahia para, segundo investigações, prejudicar a eleição de Lula. Houve diversas blitze, operações proibidas pelo TSE e que de alguma maneira atrasaram ou impediram a votação dos baianos em diversos municípios. A votação expressiva do presidente Lula mostra que na Bahia, fascista não se cria!”, avaliou Daniel.

Segundo o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), tentaram roubar a eleição.
“É um crime contra a democracia, com provas concretas, perpetrado pelo aparato do Estado contra uma parcela específica da população. Esse atentado não pode ficar impune. E não há como punir Anderson e não responsabilizar seu chefe. Cadeia para Bolsonaro!”, defendeu o parlamentar.

A deputada federal Daiana Santos (PCdoB-RS) considerou grave os fatos descobertos pela PF. “Urgente! A PF encontrou um boletim de inteligência, produzido por Anderson Torres, ministro de Bolsonaro. O documento tinha um mapa dos locais onde Lula venceu no 1º turno. Pouco depois tivemos aquelas blitze da PRF que tentaram impedir a votação do povo”, destacou Daiana.

“Fora a minuta do golpe, Anderson Torres, ex-ministro de Bolsonaro, tinha mapa das votações e foi à Bahia organizar bloqueios da PRF pra impedir eleitores de votar no 2o turno. Aí a gente vê a dimensão da vitória de Lula. Anderson tá preso, falta o chefe. Sem anistia pra golpistas”, disse a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR).

A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) considerou mais um caso grave. “A PRF tentou impedir a população de votar e a ação tinha como objetivo favorecer Bolsonaro. A PF descobriu documento de inteligência produzido por Anderson Torres com mapa detalhado dos locais onde Lula venceu no primeiro turno. Tá passando da hora de prenderem Bolsonaro!”, reagiu.