A sub-representação da mulher na política é um problema de primeira ordem e tem um caráter coletivo, ou seja, é importante para a sociedade e para a democracia brasileira. A observação foi feita pela professora IPOL-UnB Flávia Biroli, que coordenou a pesquisa “Gênero e Raça nas Eleições de 2022”.

O estudo foi apresentado nesta quarta-feira (31) durante o seminário “Desafios para a paridade: gênero, raça e eleições no Brasil” promovido pelo Observatório Nacional da Mulher na Política (ONMP) da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados e o Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (IPOL-UnB).

O estudo foi desenvolvido nos eixos da violência política contra as mulheres e na atuação dos partidos e processos eleitorais.

“Há uma indicação muita clara de que o acesso aos recursos passa pelo problema do acesso ao tempo de propaganda determinado por lei. A gente tem aqui um problema muito sério de acesso ao que de fato se passa na propaganda eleitoral. Nós não temos transparência pública do que se passa”, afirmou Flávio Biroli.

Outro dado importante é que a violência de gênero constrange, limita e retira as mulheres das disputas políticas.

“Estamos falando de violência muito aguda contra as mulheres. A violência não existe de forma isolada no racismo, na transfobia e da reação violenta contra a defensora dos direitos humanos. Também há dificuldades de que as denúncias sejam colhidas para proteger as mulheres durante as campanhas ou que sejam convertidas em processos judiciais”, disse.

Uma das coordenadoras do evento, a deputada Daiana Santos (PCdoB-RS), apontou um cenário caótico e difícil, mas viu avanços. 

“Nós temos aqui parte dessas mudanças que consideramos fundamentais porque é a primeira legislatura aonde se chega de forma muito consistente tendo uma mudança com a cara do Brasil. Chega a bancada do cocar, o aumento de mulheres negras e os LGBTQIA+”, afirmou.

Para ela, basta observar as sessões na Câmara para ver a diversidade. “A cara do povo real dentro desta Casa. Os partidos precisam romper ciclos sistêmicos. Se nós quisermos que política seja ampla e diversa, ela tem de ter um alcance real para todos e todas”, defendeu.

Mulher na política

Laiz Soares, co-fundadora da organização Conecta Aceleradora de Mulheres na Política, disse que o tema é relevante para todo o país.

“O impacto da mulher na política resolve problemas que todos nós queremos ver resolvidos, por exemplo, a violência doméstica. Tem estudo que mostra que a gente pode reduzir em até 60% no número de violência doméstica nos municípios que são liderados por mulheres”, explicou.

No caso da pandemia de Covid-19, ela fez referência a um estudo que mostrou que cidades comandas por mulheres tinham uma média de morte 40% a 45% menor que as administradas por homens.

“São observações que, sem dúvidas nenhuma, vão ajudar a secretaria e comissão da mulher nesta Casa a formular políticas para dar condições das mulheres participarem mais. E observar o que impede as mulheres de estarem aqui nesta Casa e em outros espaços de decisões”, disse a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), outra coordenadora do evento.