A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Golpe, que investiga os atos fascistas de 8 de janeiro, considerados os maiores ataques à democracia desde a redemocratização do país, aprovou nesta terça-feira (6), por 18 votos a 12, o plano de trabalho apresentado pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora do colegiado.

Por meio de acordo, os anexos do relatório – requerimentos de convocação e outros – ficaram para ser votados na próxima semana.

A relatora propôs que as investigações mirem nos possíveis financiadores e autores intelectuais dos ataques de bolsonaristas às sedes do Supremo Tribunal Federal (STF), Palácio do Planalto, Câmara dos Deputados e Senado.

Nesse sentido, a senadora adotou como linha de investigação uma ordem cronológica, considerando as manifestações contrárias ao resultado legítimo das eleições, os ataques à sede da Polícia Federal (PF) em 12 de dezembro do ano passado e a tentativa de bomba no aeroporto de Brasília, no dia 24 do mesmo mês.

“Para investigar os atos de vandalismo que ocorreram nos edifícios na Praça dos Três Poderes, é necessário esclarecer as ações que antecederam e deram ensejo à invasão dos prédios, à destruição de patrimônio, à agressão a agentes públicos”, justificou a relatora.

Para auxiliar nessa linha, ela defendeu a convocação dos ex-ministros Anderson Torres (Justiça) e Augusto Heleno (Segurança Institucional), ambos do governo Bolsonaro.

Além deles, será chamado Ricardo Cappelli, o atual secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública e ex-interventor federal na Segurança Pública do DF.

A líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali (RJ), elogiou o plano da relatora. “Até porque os atos golpistas aconteceram por quê? Porque no centro estava o questionamento do resultado das eleições”, disse.

O processo, segundo a líder, era questionar a legitimidade da posse do presidente Lula. “No centro estava o questionamento eleitoral. No centro estava a urna eletrônica. Isso tudo foi coordenado desde o processo eleitoral”, afirmou.

Na avaliação dela, os questionamentos envolviam as urnas eletrônica, a fraude das eleições e a eleição do presidente Lula.

“Então ela faz um roteiro colocando exatamente o processo que derivou no 8 de janeiro. Então o roteiro é correto. O 8 de janeiro não é só 8 de janeiro. É um processo. Inclusive os anexos, os requerimentos eles têm também uma sequência lógica em relação ao plano de trabalho”, elogiou.

Questão de ordem

Os deputados e senadores bolsonaritas tentaram tumultuar a reunião após o deputado Rogério Correia (PT-MG) apresentar uma questão de ordem sobre a presença do deputado André Fernandes (PL-CE) no colegiado.

Ele é autor do pedido de criação da CPMI, mas é investigado pelo STF por suposto envolvimento nos atos.

O presidente do colegiado, Arthur Maia (União-BA), rejeitou o pedido. “Não querer receber a questão de ordem é errado. Nós vamos endereçá-la ao presidente Rodrigo Pacheco [Senado], porque realmente é muito estranho que alguém indiciado pela Polícia Federal possa fazer parte deste colegiado para examinar potenciais crimes que a própria pessoa cometeu”, disse.