Em primeiro lugar, importa saber que não é possível entender as ações de Bolsonaro com base no arsenal lógico que costuma nortear decisões políticas. Ele não funciona assim. Bolsonaro se movimenta sempre pela construção de narrativas. A crise que engolfa o governo se agravou com custo do descontrole da pandemia e mudou de qualidade após a carta em que economistas, agentes financeiros e empresários sinalizam que a situação não pode continuar. Faltaram leitos nos hospitais de elite e a Faria Lima chiou.

O Congresso emparedou o governo pela demissão de Ernesto Araújo, um estafermo que atrapalhou a obtenção de vacinas e o comércio exterior, indispondo o Brasil com todo o mundo civilizado. Encurralado, a contragosto, Bolsonaro teve que jogá-lo ao mar. A fragilidade evidente de Bolsonaro começou a pegar mal e parecer frouxidão para sua base extremada nas redes sociais, que vem a ser o único sustentáculo que ainda dá ao presidente alguma viabilidade política e eleitoral. Bateu o desespero, o capetão teve que mostrar as garras.

Então resolveu fazer uma reforma ministerial cujos pilares são: segurar a caneta do impeachment, ceder mais espaço ao Centrão; blindar os filhos investigados com o MJ e fazer uma devassa contra quem não diz amém a tudo o que ele manda. Aí entra o truco às Forças Armadas. Bolsonaro acha que os militares deveriam sustentar seus devaneios autoritários. Não é figura de linguagem: ele age em busca do golpe. Com a demissão do Ministro da Defesa tentou mostrar força e colocar o zap de uma quartelada na mesa. Não contava que o Alto Comando pediria 6!

A posição do Ministro Fernando Azevedo de denunciar a pressão pela subalternização das forças em sua carta de demissão foi a senha. A atitude dos comandantes, que, solidários, entregaram os postos, mostrou que não será fácil para o Genocida enredar as Forças Armadas em um golpe. Fechadas as portas dos quartéis, o governo passou a se movimentar por um projeto de “mobilização nacional” que daria a Bolsonaro poderes extraordinários, inclusive ascendência sobre funcionários de estados e municípios – ou seja, as polícias militares. Fracassou.

Resumo: Animal acuado, Bolsonaro tentou fuga para frente, mas foi derrotado – ao menos por ora. Quis mostrar força e transpareceu fraqueza. Está desorientado. Cabe-nos elevar a vigilância e mobilização em defesa da democracia e unir forças para derrotar definitivamente o Genocida.

*Orlando Silva é deputado federal pelo PCdoB de São Paulo