A fala preconceituosa da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em relação às religiões de matriz africana repercutiu no Parlamento. Michelle compartilhou em sua conta no Instagram uma publicação que associa religiões de matrizes afro-brasileiras, como a umbanda e o candomblé, às “trevas”. O vídeo mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante um ritual, realizado no ano passado, em Salvador.

No post, nos stories, a primeira-dama compartilhou a postagem feita pela vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos) em que Lula aparece sendo abençoado por mulheres de religiões africanas onde a vereadora afirmou: “Lula já entregou sua alma para vencer essa eleição”. Michelle, por sua vez, criticou que o ex-presidente não seria tratado da mesma forma ao ter sua imagem associada à religião. "Isso pode, né! Eu falar de Deus, não!"

A fala aconteceu após polêmicas que relacionavam Michelle a um possível fanatismo religioso, especialmente após ela declarar que as eleições eram uma "luta do bem contra o mal" e que o marido era um escolhido de Deus.

Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), a postagem de Michelle “é eivada de preconceito contra as religiões de matriz africana”. “Essas pessoas acham que têm o monopólio da fé, mas não passam de vendilhões do templo que usam o nome de Deus para pregar o ódio e fazer fortuna”, afirmou.

O deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA) afirmou que a declaração foi uma “violência absurda”. “É inaceitável se atacar as religiões de matriz africana. Todo respeito à liberdade religiosa! O Deus em que cremos é de todos nós, indistintamente, independente de religião”, declarou.

“A primeira-dama quer falar de deus enquanto espalha intolerância e ódio. Acho esse comportamento incompatível com qualquer fé, mas ela sabe bem usar a religião como escada para alcançar seus objetivos. Uma pena que ainda há quem caia nesse falso discurso…”, pontuou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

O deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA) também condenou a fala da primeira-dama. “Em um país laico, é inaceitável que governantes e figuras públicas pratiquem #intolerânciareligiosa e racismo contra seu próprio povo, condenando a liberdade de praticar sua fé. Não se tolera a intolerância”, escreveu no Twitter.

O uso dos mesmos vídeos por bolsonaristas já foi alvo de representação feita pela Coalizão Negra por Direitos, que apontou a promoção de discurso de ódio. Segundo a Coalizão, à época, associações como essas são racistas, extrapolam o limite da liberdade de expressão e têm o objetivo de indignar e gerar ódio.