A extinção do Bolsa Família e do auxílio emergencial deixará aproximadamente 25 milhões de brasileiros sem receber benefício social. Os números foram obtidos por meio de um monitoramento feito pela assessoria técnica do PT no VIS Data, do Ministério do Desenvolvimento Social. O quadro da exclusão põe em xeque a estratégia de alavancar a reeleição de Bolsonaro entre a população mais pobre do país.

O presidente aposta no pagamento do Auxílio Brasil – substituto do Bolsa Família – como forma de melhorar sua performance no eleitorado de baixa renda. Segundo o último levantamento Quaest Consultoria, a avaliação negativa do governo supera 50% na maioria dos estados.

A população mais pobre é uma das mais atingidas com a instituição do novo benefício social. Até outubro, por exemplo, 39,3 milhões de pessoas receberam o Bolsa Família ou o extinto auxílio. Já em novembro, primeiro mês do novo benefício, 14,5 milhões de brasileiros receberam o pagamento do Auxílio Brasil, uma diferença de 24,8 milhões.

Só em São Paulo, o estado com maior população brasileira, foram excluídas mais de cinco milhões de pessoas. No estado, o auxílio chegou a ser pago para 7,2 milhões, número reduzido drasticamente para 1,6 milhão. Rio de Janeiro (2,5 milhões), Minas Gerais (2,4 milhões), Bahia (1,5 milhão), Paraná (1,4 milhão), Rio Grande do Sul (1,2 milhão), Pernambuco e Goiás (ambos com pouco mais de 1 milhão de benefícios a menos) completam o ranking da exclusão.

O Bolsa Família durou 18 anos e possibilitou que 28 milhões de pessoas deixassem a linha da pobreza entre 2002 e 2014. Ainda sem fonte assegurada, o novo benefício tem duração até o final de 2022, isto é, um ano eleitoral.

O líder do PCdoB na Câmara, deputado Renildo Calheiros (PE), voltou a condenar a extinção do programa e o pouco caso feito pelo governo Bolsonaro com a população mais carente. “É absurdo que o governo Bolsonaro acabe com o Bolsa Família e substitua por um novo programa que não atenderá toda a população necessitada. O povo precisa de ajuda urgente para garantir comida na mesa e sobreviver diante de tanta inflação e carestia. O Auxílio Brasil, criado de forma improvisada, deixará 24,8 milhões de pessoas sem nenhuma renda. E quem ficou de fora? Como irá comer?”, questionou.

Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) a situação é desesperadora. “Nas filas de todo o Brasil, no último dia de pagamento do auxílio emergencial, a preocupação era a mesma: como sobreviver sem esse dinheiro e sem o programa Bolsa Família.”

De acordo com ela, milhares de famílias não se enquadram no perfil atendido pelo Auxílio Brasil. “Em um cenário de fome e desemprego, a necessidade de ampliação de programas sociais é urgente, mas o governo vai na contramão! O Auxílio Brasil não substitui o Bolsa Família e ainda tem prazo de validade!”,  criticou.

“O desemprego aumenta, aumenta a gasolina, a energia elétrica, e o governo Bolsonaro faz o quê? Acaba com o Bolsa Família! Cria o seu programa, um programa dele, que vai funcionar só até após as eleições, que é o chamado Auxílio Brasil. Com isso, ele vai deixar de fora 24 milhões de famílias brasileiras que recebiam uma ajuda financeira por conta da pandemia”, criticou a vice-líder da Oposição, Perpétua Almeida (PCdoB-AC).

Com base nos números, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (RS), anunciou que o partido vai ingressar com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para manter o Bolsa Família. A ação deve ser protocolada semana que vem para resguardar os interesses de milhões de brasileiros em situação de vulnerabilidade social.

Na avaliação da ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Tereza Campello, o Auxílio Brasil é na verdade “a maior exclusão da história da proteção social do Brasil, que ficará como mais uma triste marca do governo de Bolsonaro”.