Um dia após o Ministério da Saúde anunciar a compra de 46 milhões de doses da Coronavac, que está sendo desenvolvida em São Paulo pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, o secretário-executivo da pasta, Élcio Franco, fez um pronunciamento nesta quarta-feira (21) negando intenções do governo de adquirir a vacina.

O secretário-executivo destacou ainda que, no que depender do Ministério da Saúde, a vacina "não será obrigatória". 

A declaração de Élcio Franco ocorreu logo após o presidente Jair Bolsonaro ter afirmado nas redes sociais que o Brasil não compraria o imunizante. Nesta semana, Bolsonaro já havia afirmado a apoiadores que a vacina contra o novo coronavírus "não será obrigatória". Ele também criticou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que defende a obrigatoriedade da vacinação.

Para a líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC), ao envolver suas crenças ideológicas e suspender a compra das vacinas, o presidente "comete crime contra a saúde pública da população". "Bolsonaro não pode tirar do cidadão o direito de ter acesso à saúde e à vida. Mais de 150 mil brasileiros já morreram pelo coronavírus. Nos aparece uma luz no fim do túnel, a vacina. O q/ faz o presidente? Faz birra e diz q/ ñ vai comprar, desautorizando seu ministro da Saúde", escreveu no Twitter.

A deputada lamentou que, mais uma vez, o governo federal ignore a ciência e oficialize o lema "ideologia acima de todos". Perpétua também criticou a postura antivacina adotada por Bolsonaro: "Pouco importa se mais brasileiros vão morrer. O presidente se mostra mesquinho e pequeno, ao abrir 'guerra contra as vacinas'. Demonstra ser incapaz de pensar na saúde coletiva da população".

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) também usou as redes sociais, para condenar o anúncio de que o governo federal não tem a intenção de comprar a vacina contra a covid desenvolvida na China. "Se isso se confirmar, estará materializada a responsabilidade direta do presidente pela não imunização e, consequentemente, pelas mortes que vierem a ocorrer", advertiu.

Segundo o parlamentar, Bolsonaro "pode ser o palpiteiro negacionista que quiser no almoço de domingo, mas como presidente ele está OBRIGADO a seguir as prescrições médicas e buscar soluções rápidas e eficazes para a pandemia". "Não lhe é facultado fazer querela política com a vida das pessoas", frisou.

"Só uma mente profundamente afetada, totalmente deteriorada pelo ódio obscurantista, é capaz de impedir a aquisição de vacinas por questões 'ideológicas' e 'políticas'. Bolsonaro se coloca uma vez mais ao lado do coronavírus, ao lado da morte", afirmou o deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA).

O deputado defendeu uma ação urgente em todas as esferas, além do Legislativo e Judiciário, para impedir que Bolsonaro cometa "a insanidade de proibir a compra de  vacinas contra a covid". "E é urgente também a manifestação de todos e todas que se colocam em defesa da vida", conclamou.

Coronavac

De acordo com o Instituto Butantan, a Coronavac teve os menores índices de reações em comparação a outros imunizantes contra a Covid-19. O laboratório brasileiro informou que o sintoma mais frequente nos testes com 9 mil voluntários brasileiros foi dor no local da aplicação, relatada por 18% das pessoas testadas.

A primeira fase de testes clínicos da Coronavac no Brasil terminou na sexta-feira (16), apontando pouco mais de 5% de efeitos colaterais entre quem recebeu a vacina.