No Carnaval de 2019, lá estava ela, uma das principais estrelas daquele show de protesto e arte, misturados numa energia vibrante, de cores, música, canto. O sambódromo viu lágrimas e a Estação Primeira de Mangueira ecoar pelo mundo a fora a angústia de milhões de brasileiros. Quem matou Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes? Quem mandou matar a vereadora? A campeã do Carnaval carioca refletiu no céu carioca não só questionamento, mas a luz dessa liderança política negra, feminista, LGBT, vibrante, de um sorrisão marcante.

Um ano.
É difícil de acreditar, às vezes, que tudo isso tenha ocorrido.
Saber do assassinato de Marielle naquela noite foi como um soco no estômago. Um soco em toda as lideranças, militantes, amigos, familiares… Em toda a Esquerda. Ficamos devastados, fomos levados ao extremo de nossas lutas e emoções. Diariamente. Chamados a cobrar, durante todos esses meses, respostas.

Os vínculos, como se vê, vão aparecendo. A cada hora aparece algo mais, como uma grande linha invisível de uma trama cruel, baixa, impiedosa. Os nomes políticos entrelaçados nesse emaranhado pipocam pelos noticiários, mostrando que há muito ainda a se investigar. E é fundamental que eles, de fato, apareçam. Não é possível que, por meio de um crime político, neste Estado Democrático de Direito combalido e violado, uma mulher detentora de um mandato parlamentar e representativa seja retirada sem que essa resposta por completo seja dada.

Apesar das angústias, Marielle se transformou em luz de todos e todas nós diante da escuridão que tomava o país (que tomou o país). Virou esprranca em meio ao caos, às incertezas e a falta de esperança. Semeou e floresceu! Mal sabem eles que são tantas Marielles Brasil a fora hoje… mal sabem eles que Marielle jamais será esquecida, apagada, difamada, seja em manifestações fascistas ou no Parlamento – isso jamais aceitaremos. Ela agora está nos estudantes que tomam as ruas contra os retrocessos na educação, nas meninas e mulheres que se erguem contra o patriarcado, o machismo e a violência de gênero, em todos os cantos e setores da sociedade.

Um abraço apertado meu para sua mãe, Marinete, uma mulher que não tenho palavras para caracterizar sua força durante todos esses meses nos atos, reuniões, protestos e cobranças públicas. De uma mãe para outra mãe, meu carinho. Também para Arielle, Luyara e Mônica. Para Ágatha Reis, viúva de Anderson e toda a sua família. Sigam fortes, garotas!  Sigam fortes!

Ainda é difícil chegar aos 365 dias sem saber os mandantes. Apesar de tudo! Renova-se aqui nossa esperança de que o crime POR COMPLETO seja elucidado.

E Marielle segue assim.
Sendo energia. Luz. Esperança. Resistência.
Uma ideia jamais a ser encerrada.

*Médica, deputada federal (PCdoB-RJ) e líder da Minoria.