A confusão generalizada no segundo dia de julgamento da presidenta Dilma Rousseff no Senado é mais um indicativo retumbante de que não há crime de responsabilidade que fundamente o processo. Na falta de argumento jurídico, senadores brigam e revelam verdadeiras paixões e interesses inconfessáveis por trás do impeachment.

Em meio a uma sucessão de desavenças, Renan Calheiros chama a Casa que preside de “hospício”. Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, corta microfone e paralisa discussão pela segunda vez. Senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Ronaldo Caiado (DEM-GO) voltam a bater boca, e presidente do Senado diz que sessão é demonstração de “burrice infinita”. Perdendo a compostura, ele ataca a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).

"Ontem, a senadora Gleisi chegou ao cúmulo de dizer aqui para todo o país que o Senado Federal não tinha moral para julgar a presidente da República. Como a senadora pode fazer uma declaração dessa, exatamente uma senadora que há 30 dias o presidente do Senado Federal conseguiu, no Supremo Tribunal Federal, desfazer o seu indiciamento e do seu esposo", afirmou Renan Calheiros, que passou a ser indagado pela imprensa sobre a suposta intervenção no STF.

As cenas de descontrole assistidas pelos brasileiros resgatam as marcas desse processo injusto e frágil, norteado pelo desejo de impor à população uma agenda de atropelo de direitos sociais e trabalhistas, um projeto político rejeitado nas urnas em 2014.

Comandante do golpe, o corrupto Eduardo Cunha (PMDB-RJ) agiu de forma espúria para derrubar Dilma e levar ao poder o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB). Sem constrangimento, o interino agora tenta interferir no processo e acelerar o desfecho do caso para consolidar o golpe que trará perdas de direitos a trabalhadores. Sem voto popular, quer implementar uma nova política de estado nociva aos interesses nacionais.
Na segunda-feira (29/08), a presidenta irá resistir até o fim, indo pessoalmente ao Senado para fazer sua defesa.

Independentemente do resultado da votação, é hora de resistirmos em todos os espaços. Cabe apenas à população definir por meio de plebiscito se quer antecipar ou não as eleições presidenciais. Não aceitaremos a consolidação deste golpe que prejudicará os mais pobres e favorecerá o mercado financeiro em detrimento do país. Todos mobilizados. Brasil contra o golpe!

*Deputado federal pela Bahia e líder do PCdoB na Câmara.