Os maranhenses ansiavam por mudança. Os quase 50 anos de domínio da família Sarney e de seus aliados no comando do estado desestruturaram e deslegitimaram as instituições públicas, enfraqueceram a segurança e frearam o desenvolvimento local, deixando o Maranhão com o segundo pior Produto Interno Bruto (PIB) per capita – apesar do crescimento da economia – e o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, só atrás de Alagoas, conforme o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

Com esse cenário desestruturado e uma população desassistida, a candidatura de Flávio Dino ao governo do estado ganhou força e levou à eleição do advogado comunista com 1.877.064 (63,52%) dos votos válidos pela coligação “Todos por Maranhão”, (PCdoB, PDT, PP, PPS, PROS, PSB, PSDB, PTC e Solidariedade). É a primeira vez que o PCdoB elege um governador no país e a ideia antiquada sobre a legenda foi o mote da campanha oposicionista para tentar desestruturar Dino nessas eleições. A tentativa, no entanto, foi em vão.

Dino se mostrou um candidato avesso aos truques de marketing montados pela oposição. Seguro e com propostas concretas para a melhoria do estado, o ex-juiz federal ganhou a confiança do povo e promete fazer do seu mandato uma nova experiência para os maranhenses. “As pessoas [políticos] se esquecem que estamos trabalhando para o povo. Que somos servidores do povo”, declarou Flávio Dino a uma jornalista local, dando o tom do seu governo.

Propostas

Para alavancar a economia, ele pretende investir na geração de empregos a partir da economia primária, com efeitos no comércio e nos serviços; vai investir na agroindústria e explorar as vantagens logísticas que o estado oferece.

“Estamos em um ponto estratégico entre as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Temos uma integração ferroviária e rodoviária de grande importância, e, em termos potenciais, o melhor porto do Brasil. É a primeira parada de quem vem do canal do Panamá [na América Central] e a última de quem está indo para o Pacífico. Na China e Índia, são dois bilhões de pessoas para serem alimentadas, e o caminho mais perto para esses grandes centros é o Maranhão. Precisamos utilizar essa localização geográfica para atrair empresas e investimentos que olhem para o mundo e revitalizar aquele passado que fez a região ser disputada por portugueses, holandeses e franceses há séculos atrás”, disse numa entrevista à Carta Capital.

No campo social, Dino, que também já foi deputado federal pelo PCdoB, quer investir na saúde e na educação da população. Hoje, os maranhenses são atendidos pelo menor número de médicos do país – um para cada 1.260 habitantes (0,79 médico para cada 1.000 habitantes, de acordo com cálculo específico do setor). A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de um médico para cada 1.000 habitantes.

Aumentar o número de profissionais para atendimento da população é uma das propostas de Dino para seu governo. Ele pretende aumentar o número de vagas nos cursos de medicina; criar o programa “Mais Médicos Maranhão”, complementando o programa do governo federal; fortalecer a equipe técnica da Secretaria de Saúde para apoiar os municípios no desenvolvimento da Estratégia de Saúde da Família de acordo com as normas nacionais; implantar carreira de estado para os médicos, garantido, assim, a presença de profissionais em todas as regiões, além de estabilidade, remuneração adequada e promoções por mérito para os médicos.
Na educação, a ideia é tirar o Maranhão do limbo onde se encontra. Entre 2009 e 2013, o estado seguiu o caminho inverso do Brasil no quesito. O número de analfabetos cresceu – passando de 19,1% dos maiores de 15 anos para 20,8% nesta faixa etária. Para Dino, as mudanças começam já na ampliação da verba do Bolsa Família para a compra de material escolar e na implantação de um programa nacional de combate ao analfabetismo. Além disso, pretende criar um programa permanente de valorização da docência; aumentar a Rede de Ensino em Tempo Integral; e criar universidades estaduais regionalizadas.

O combate à violência é outra bandeira importante. Segundo Dino, há 20, 30 anos, o Maranhão não era um estado violento. Hoje, o índice assusta. De acordo com o Mapa de Violência no Brasil 2014, o Maranhão teve aumento de 203,6% de homicídios entre 2002 e 2012, ocupando a terceira posição entre as unidades federativas com maior crescimento no número de homicídios no período: 12.399. Para o novo governador é preciso “enfrentar o problema com duas mãos”: inclusão social, esportiva e cultural; e presença significativa da polícia no estado.

Antes de tentar o governo maranhense, Dino presidiu a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), foi professor da Universidade Federal do Maranhão e advogado.

De Brasília, Christiane Peres