A quase dois meses de tomar posse como presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL) já demonstra falta de traquejo com a política externa ao gerar atritos que colocam em xeque alguns dos pilares da diplomacia brasileira.

Declarações contra a China (nosso maior parceiro comercial), estremecimento com países árabes (que, juntos, são o segundo principal destino das carnes bovinas e de frango do Brasil) e desprezo pelo Mercosul são, até então, as principais diretrizes tornadas públicas pelo próximo governo.

Para a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), que já presidiu a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara, os primeiros movimentos indicados pelo presidente eleito levam à fragilização da proposta econômica que ainda sobrevive no país.

“Vimos o que já repercutiu da ofensiva de se aproximar de forma subserviente aos Estados Unidos. São todas declarações e decisões irresponsáveis. Precisamos cuidar do nosso desenvolvimento, da nossa soberania e, sobretudo, barrar tudo aquilo que desconstrói um projeto de desenvolvimento, nesta Casa e nas ruas”, apontou a parlamentar.

No Oriente Médio, o impacto das ações de Bolsonaro foi imediato. No início deste mês, ele afirmou que pretende reconhecer Jerusalém como a capital de Israel e que transferirá a embaixada brasileira – atualmente sediada em Tel Aviv –, para lá. Poucos dias depois da declaração, o governo egípcio cancelou uma visita que o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, faria ao país.

O Itamaraty foi informado pelo Egito que a viagem diplomática teria que ser cancelada por “mudança na agenda de autoridades do país”. Entretanto, desmarcar viagens em cima da hora (ele desembarcaria no Cairo nesta quarta-feira, 7) não é protocolo usual nestes casos. Diplomatas brasileiros compreenderam o gesto como uma retaliação às declarações do presidente eleito.

Durante sessão solene alusiva aos 30 anos da Constituição de 1988 no Congresso Nacional, jornalistas aproveitaram a primeira visita de Bolsonaro à Casa, após as eleições, e indagaram sobre o caso. “Não, outro assunto… Outra pergunta aí”, disse o atual deputado. Diante da insistência dos repórteres, ele voltou a negar qualquer comentário sobre o assunto, deu as costas e encerrou a entrevista por ali mesmo.    

O líder do PCdoB na Câmara, deputado Orlando Silva (SP), criticou a recusa de Jair Bolsonaro em falar sobre tais declarações. “Não existe fuga eterna. Uma hora ele terá de assumir seus atos como presidente eleito, que já causam danos ao país antes mesmo da posse”, disse.

Bolsonaro ainda não indicou quem será o ministro das Relações Exteriores de seu governo. As rusgas com outros países foram provocadas por atitudes e falas do próprio presidente eleito ou de assessores. Diante de críticas, ele está sendo aconselhado a moderar o discurso e já deu sinais de que pode voltar atrás de alguns dos posicionamentos.


Com informações de agências