Governo e oposição travam batalha nos bastidores da Câmara dos Deputados. A aprovação da denúncia por corrupção passiva depende do quórum necessário para o início da votação no Plenário da Casa. A estratégia das legendas oposicionistas é expor os deputados que não querem que Temer seja investigado no STF.

Agendada para essa quarta-feira (2), a sessão poderá ser aberta com a presença de 51 deputados, mas a votação só tem início se 342 parlamentares estiverem presentes. A Câmara irá avaliar a denúncia contra Temer, enviada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base em gravações e na delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do grupo J&F – que controla o frigorífico JBS e outras empresas.

A líder do PCdoB, deputada Alice Portugal (BA), acredita que o rito definido é um atropelo ao debate. "Gostaríamos que todos os líderes falassem, todos os inscritos falassem. É um processo criminal, pior que um impeachment. Acho que é uma restrição ao debate, uma proteção ao presidente Michel Temer", reclamou a parlamentar em entrevista na última sexta-feira (28/07).

Segundo Alice Portugal, a oposição confia na aceitação da denúncia contra Temer pela Câmara. "O Congresso tem obrigação de acatar a denúncia; a oposição vai estar lá no dia e na hora marcada. Vamos votar para acatar a denúncia". 

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, afirmou que o parlamento deve analisar o processo contra o presidente para evitar a paralisação dos trabalhos legislativos. “Nosso papel é votar. É muito grave que a Câmara não tome uma decisão, que seja para aprovar ou não, é uma decisão de cada deputado”, disse.

Conforme pesquisa realizada pelo Ibope e encomendada pelo site de petições online Avaaz (rede de ativistas para mobilização social global) 90% dos entrevistados com idades entre 16 e 24 anos querem que a Câmara aprove a investigação contra Temer.

Ainda para 73% dos que tem 55 anos ou mais, os parlamentares que votarem pela rejeição da denúncia não serão reeleitos em 2018. Na afirmação "Ficarei indignado se os deputados votarem contra a abertura do processo no STF", 70% concordam, 26% discordam e 4% não sabem ou não responderam.

De acordo com o deputado Chico Lopes (PCdoB-CE), a população aguarda a autorização para que a Suprema Corte dê prosseguimento à investigação. “Com isso Temer fica afastado e vai ter o tempo que precisa para responder as denúncias, que são muito graves", destacou.

Para Lopes, mesmo com somente 3% de aprovação na sociedade, o presidente permanece com uma base fiel com práticas que precisam de atenção. “A que custo ele mantém esse apoio todo, mesmo com tantos fatores contrários?", questionou o deputado.

O líder da minoria, deputado José Guimarães (PT-CE), afirma que a oposição não vai admitir pressões do Palácio do Planalto e pretende desgastar a imagem de Temer com um debate acalorado durante a sessão. “Quem tem obrigação de dar quórum é o governo, o governo não tem os 342 e quer cobrar de nós? Não vamos entrar nesse jogo de dar quórum ou não dar quórum”, afirmou.

Com 40 votos a favor, 25 contrários e uma abstenção, o relatório do deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) foi reprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara no dia 13 de julho. No lugar dele, o parecer do tucano Paulo Abi-Ackel vai a Plenário nesta quarta (2).

Atos e vigílias pelo Brasil pedindo a aceitação da denúncia contra Temer estão previstos para acontecer no Rio de Janeiro, Salvador, Recife, São Paulo. As manifestações são organizadas pela Frente Brasil Popular. 

Com Agência Câmara