As palavras de ordem contra a censura ecoaram nos corredores do Parlamento brasileiro. Cidadãos, servidores e deputados dividiram as falas em tom de repúdio à proibição de manifesto nas dependências da Casa. “Tortura, assassinato, não esquecemos 64!”, bradaram em alusão ao regime militar, quando a sociedade não tinha o direito de se opor ao governo.  

Em documento distribuído pelo Comitê Pró-Democracia, foi destacada a preocupação em garantir a participação da sociedade nas atividades realizadas dentro do parlamento, “considerando que este, assim como as ruas, é um espaço legítimo para que a população exerça pressão sobre os parlamentares”.

Para a presidente nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE), que articula a Frente em Defesa da Democracia, apoiadora do comitê, “amordaçar os servidores da Câmara e impedir que se expressem politicamente é um atentado à liberdade de expressão". Conforme Luciana, "é inaceitável" a atitude de Cunha

Segundo a deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG), o gesto dos servidores que defendem a democracia no nosso país foi suficiente para que fossem perseguidos internamente. “Vocês estão aqui porque prestaram um concurso público e mostraram que tinham capacidade para servir ao povo brasileiro. Vocês estão vinculados ao voto sagrado do povo nos gabinetes dos deputados eleitos. Por isso, nós dizemos que não aceitaremos o silêncio, venha de quem vier. Muito menos de quem não tem legitimidade para conduzir a Câmara,” disse Jô Moraes.   

Na terça-feira (05), Cunha enviou comunicado aos servidores avisando que seriam “proibidas manifestações de apreço ou desapreço nas dependências da Casa”. Para tanto, lançou mão do art. 117 da Lei 8112/90, que trata do regime jurídico dos servidores públicos.

De acordo com a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), há uma ameaça clara à liberdade de expressão e um “desespero” da oposição pela capacidade de mobilização da sociedade. “Todos que estão na luta pela democracia apoiam ou não a presidenta Dilma. Eles veem, em primeiro lugar, que o que está em risco é a nossa própria Constituição. A palavra agora é a da resistência”, afirmou a senadora. 

O receio do presidente da Câmara é que as críticas dos servidores quanto à suas arbitrariedades na condução dos trabalhos no Legislativo sejam questionadas. A nota distribuída ressalta que “enquanto cidadãos, desde que fora da Câmara e do expediente de trabalho” os trabalhadores terão a liberdade de manifestação.

A parcialidade de Eduardo Cunha se torna cada vez mais evidente quando Cunha impede a entrada no Congresso de manifestantes contrários ao impedimento de Dilma. Para o líder do PT na Câmara, deputado Afonso Florence (PT-BA), há vista grossa com os manifestantes defensores do golpe que são patrocinados por partidos de oposição ao governo federal. “É um direito deles, mesmo sendo fascistas. Agora, Cunha proibir servidores conscientes de se manifestar, é mais uma demonstração de que a atuação dele é parcial”, protestou o deputado.

Para o grupo que participou do ato desta tarde, é preciso “evitar que se repita a proibição da entrada da sociedade nesta que é chamada a Casa do Povo".