A Covid-19 já vitimou mais de 616 mil brasileiros, de acordo com os últimos dados do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde. Apesar da diminuição do ritmo de contágio e do número de mortes pela doença no Brasil, dado o avanço da vacinação, a pandemia ainda não acabou, mas o governo Bolsonaro mantém sua postura negacionista. A última polêmica veio do ministro da Saúde, o médico Marcelo Queiroga, que, parafraseando Bolsonaro, afirmou que “é melhor perder a vida do que a liberdade”, em referência à cobrança do passaporte da vacina para entrada no país.

“Nós queremos ser, sim, o paraíso do turismo mundial. E vamos controlar a saúde, fazer com que a nossa economia volte a gerar emprego e renda. Essa questão da vacinação, como realcei, tem dado certo porque nós respeitamos as liberdades individuais. O presidente falou agora há pouco: 'às vezes, é melhor perder a vida do que perder a liberdade', disse Queiroga.

A frase foi usada por Queiroga na terça-feira (7), em coletiva de imprensa, para justificar a não adoção pelo governo brasileiro do passaporte da vacina — uma das recomendações feitas em novembro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O passaporte sanitário — ou da vacina — já é adotado em algumas cidades como forma de permitir a reabertura de bares, restaurantes, cinemas e outros estabelecimentos de forma segura.

Recentemente, devido à preocupação com a variante Ômicron do coronavírus, a Anvisa recomendou que o governo federal exija a vacinação contra a Covid-19 para entrada no Brasil, como já fazem muitos países.

Queiroga, no entanto, abraçou a postura negacionista do governo e declarou ainda que “não se pode discriminar as pessoas entre vacinadas e não vacinadas e, a partir daí, impor restrições”.

As declarações do ministro foram prontamente rechaçadas por políticos e repercutiram na internet com memes e charges criticando a postura de Queiroga.

Médica e membro da comissão que acompanha as ações de combate à Covid na Câmara, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que o posicionamento de Queiroga é “triste e revoltante”.

“O médico e ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, acaba de usar esta frase reverenciando e concordando com Bolsonaro, em pronunciamento oficial sobre prevenção à Ômicron. Triste e revoltante que o governo brasileiro assuma publicamente essa postura negacionista e fascista frente à nova variante de um vírus que já matou mais de 610 mil pessoas no país”, declarou.

Para o líder do PCdoB na Câmara, deputado Renildo Calheiros (PE), o passaporte vacinal é fundamental para vencer a pandemia, retomar a economia e aumentar o emprego e a renda dos brasileiros.

“É inacreditável que o governo Bolsonaro contrarie recomendação da Anvisa e não exija comprovante de vacinação para estrangeiros. Vergonha alheia! É surreal a justificativa do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que liberou as fronteiras do país para a entrada de novas cepas do coronavírus”, condenou o líder.

Vice-líder da Oposição na Câmara, a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) lembrou que a declaração do médico contraria o juramento feito em sua profissão. “’É melhor perder a vida que a liberdade’, disse Queiroga. O médico que fez juramento a favor da vida. Esse Queiroga é uma farsa!”, declarou.

Já o vice-líder do PCdoB, deputado Orlando Silva (SP), afirmou que Queiroga “é um caso inédito de ministro da Saúde que abraça a morte”. “A pulsão de morte de Bolsonaro não tem fim. Nem com apelos formais e públicos de órgãos técnicos e especialistas ele adotou o passaporte da vacina. É o instinto homicida que se impõe. Ele pagará por crimes contra a Humanidade”, ressaltou.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) defendeu a saída de Queiroga do Ministério da Saúde. "O ministro da Saúde saiu do seu lugar de médico para se transformar num chulo repercutidor do negacionismo, uma pessoa que na Pasta da Saúde — e não na da Fazenda ou da Economia — abre a boca para dizer que é preferível morrer a perder a liberdade. Como se vacinar-se fosse sinônimo de perder a liberdade. Como se vacinar-se fosse sinônimo de qualquer intervenção na individualidade de alguém. Quando na verdade é o interesse coletivo que está em voga. A necessidade de salvar vidas. Então, o ministro da Saúde deveria pedir para sair", declarou na tribuna da Câmara.