Um grupo de deputados realizou ato, nesta quarta-feira (20), para devolver simbolicamente a placa arrancada de uma exposição na Câmara dos Deputados, que denuncia o genocídio da população negra no Brasil. A mostra, inaugurada ontem no Corredor de Exposições, homenageia o Dia da Consciência Negra – celebrado em 20 de novembro.

O painel, com uma charge do artista Carlos Henrique Latuff de Sousa, foi retirado e quebrado ao meio pelo deputado Coronel Tadeu (PSL-SP).

A obra trazia dados sobre a violência do Estado contra negros e negras. O cartaz mostrava um policial com uma arma, se afastando depois de atirar em um jovem algemado e os dizeres “o genocídio da população negra”. Compondo a peça, dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre mortes de jovens negros registrando que eles são as principais vítimas da ação letal das polícias e o perfil predominante da população prisional do País.

“Nós fizemos um ato simbólico em resposta ao que ocorreu aqui ontem, com o vandalismo racista cometido pelo parlamentar”, afirmou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

A líder da Minoria explicou que vários parlamentares, acompanhados por artistas que estavam na Casa participando de eventos em comemoração ao Dia da Consciência Negra, estavam recolocando réplicas da imagem no mesmo local que o painel ocupava na exposição. “A placa original, que está sendo refeita, também será devolvida para esta parede”, disse.

Jandira informou ainda que os partidos de oposição já adotaram todas as providências, para que o deputado do PSL seja punido pelo ato de vandalismo racista.

Representação assinada por 14 deputados foi protocolada na Procuradoria-Geral da República (PGR), na noite da terça (19), cobrando a apuração de crime de racismo praticado pelos deputados Coronel Tadeu e Daniel Silveira – este, também do PSL, por ter proferido “palavras que também configuram racismo, além da configuração de apologia ao crime e ao criminoso”.

Silveira tornou-se conhecido por quebrar a placa em uma rua do Rio de Janeiro, que tinha o nome da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ), assassinada com o motorista Anderson Gomes no início de 2018 em um atentado.

“O racismo, promovido e incentivado pelos parlamentares representados, demonstra a face mais perversa da lógica colonial”, diz o texto. “É inaceitável, no Estado Democrático de Direito, que o racismo seja proclamado, abertamente, nas tribunas e nos corredores da Câmara dos Deputados”, continua o documento.

Além da líder da Minoria, a representação foi firmada por Áurea Carolina (MG), David Miranda (RJ), Edmilson Rodrigues (PA), Fernanda Melchionna (RS), Glauber Braga (RJ), Ivan Valente (SP), Luiza Erundina (SP), Marcelo Freixo (RJ), Sâmia Bomfim (SP) e Talíria Petrone (RJ), todos do Psol, Benedita da Silva (PT-RJ), Orlando Silva (PCdoB-SP) e Ubirajara do Pindaré (PSB-MA).

Os partidos de oposição também encamparam a ação, apresentada nesta terça pelo PT à Secretaria Geral da Mesa, pedindo a abertura de processo no Conselho de Ética da Câmara contra o deputado Coronel Tadeu por quebra de decoro parlamentar.

Caso acatada a representação, o deputado pode perder o mandato, ser afastado temporariamente ou receber censura verbal ou escrita.

“Não aceitamos esta manifestação de vandalismo do deputado. Vamos resistir, mantendo aqui estas réplicas da charge do Latuff até que a peça vandalizada seja recolocada em seu local de origem”, assinalou a deputada Benedita da Silva, durante o ato.

Para a deputada Talíria Petrone, não haverá democracia plena no Brasil enquanto o racismo não for superado. “O que aconteceu escracha o racismo estrutural, que está incrustado nas instituições brasileiras”, denunciou.

O painel original do artista Carlos Latuff – após ter sido restaurado, porém mantendo as marcas do vandalismo, foi devolvido ao local que ocupava na exposição na noite desta terça.