O último final de semana deixou um gosto amargo para os brasileiros que apreciam e valorizam a cultura e a história do país. Na noite de domingo (2), um incêndio de grandes proporções tomou conta do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, destruindo a estrutura interna e o acervo do local, que contava com mais de 20 milhões de itens.

Na terça-feira (4), em pronunciamento no Plenário da Câmara, deputados lamentaram o ocorrido e se solidarizaram a funcionários que contribuíram com afinco ao longo dos anos para formar e manter a história do Brasil viva. Os parlamentares também apontaram a omissão e o descaso por parte das autoridades em relação à cultura do país.

Jandira Feghali (PCdoB-RJ), vice-líder da Minoria na Câmara, chamou atenção para a falta de recursos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFFRJ), que administra o museu, e salientou que isso foi fator determinante para a tragédia ocorrer.

A deputada sempre teve o patrimônio cultural como foco de atuação, sendo uma das idealizadoras da Comissão de Cultura da Casa, e sua primeira presidente. Para ela, a cultura é pauta emancipadora, transformadora, estruturante da cidadania e da mudança das relações de vida entre as pessoas e das pessoas com o mundo.

“Quando entrou esse governo sem voto, a primeira atitude foi acabar com o Ministério da Cultura, que só voltou por causa do movimento Ocupa Minc. Depois, veio a emenda de congelamento constitucional de recursos, que impediu investimentos básicos na área. Os deputados que aqui estão e votaram por sua aprovação são cúmplices desse incêndio criminoso. Isso foi um crime político”, apontou.

Parlamentares ainda lembraram que a tragédia estava anunciada por laudos que atestavam o comprometimento da estrutura do prédio de 9 mil metros quadrados. A Procuradoria-Geral da República (PGR) já havia comunicado ao Estado do Rio de Janeiro a necessidade de uma averiguação, inclusive pelo Corpo de Bombeiros.

O incêndio do Museu Nacional culminou na destruição de grande parte do patrimônio cultural brasileiro, afetando sua história e sua identidade. A Unesco (Agência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), o governo francês e a National Geographic Society (NatGeo) oferecem apoio para a reconstrução do prédio de 215 anos, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Segundo Gary Knell, diretor-executivo da NatGeo, a entidade pode oferecer, além do auxílio financeiro, parte de seu acervo, focado na história natural e antropologia. O Museu contava com diversos setores, como geologia, paleontologia, botânica e arqueologia – que incluía a maior coleção de arte egípcia da América Latina.

Na manhã desta quarta-feira (5), a fumaça ainda saía dos escombros. Os bombeiros seguem de plantão no local. Especialistas de Brasília auxiliam os agentes da Polícia Federal no Rio na investigação das causas das chamas.