A vida privada de políticos não deve servir de munição para embates no Congresso. Respeito à privacidade, porém, não significa ignorar suspeitas graves de corrupção na administração pública. O escândalo envolvendo Fernando Henrique Cardoso, portanto, tem de ser rigorosamente investigado pela Polícia Federal para que a sociedade tenha uma resposta.

Deputados do PCdoB e do PT pediram a investigação ao Ministério da Justiça por haver indícios de que o ex-presidente cometeu crimes de evasão de divisas, corrupção passiva e crime contra ordem tributária. Denúncias da jornalista Miriam Dutra, que teve relação extraconjugal com FHC, apontam que ela recebia remessas de dinheiro por meio da empresa Brasif Exportação e Importação entre 2002 e 2006, mesmo sem trabalhar como o previsto no contrato. Não interessa saber sobre o relacionamento afetivo de Fernando Henrique, mas sim se os brasileiros e o Brasil foram lesados nesse processo.

A consolidação da democracia brasileira avança, mas enfrenta grandes desafios. É inaceitável, por exemplo, que se estimulem investigações seletivas com objetivos políticos no país. Em um momento em que agentes públicos, em todos os âmbitos, são alvo do Ministério Público e da PF, não há como deixar de lado as suspeitas sobre FHC.
As revelações sobre o tucano são gravíssimas, mas não estão tendo a devida dimensão em setores da grande mídia. Vivemos um período em que as mais diversas figuras públicas têm a vida exposta pela imprensa muitas vezes com base em delatores sem apresentação de provas e direito à ampla defesa. Por essa razão, não há justificativa para que o ex-presidente seja poupado por jornalistas, tendo em vista que há indícios consistentes sobre sua conduta. Mas, claro, as notícias devem ser divulgadas de forma séria e responsável.

O tratamento dado pelos veículos de comunicação a Luiz Inácio Lula da Silva, também ex-presidente da República, é bem diferente daquele dispensado a FHC. Por vezes, Lula é linchado publicamente baseado apenas em falas de acusados, sem haver qualquer prova robusta. Não podem existir dois pesos e duas medidas. Não podemos fingir que nada ocorreu com o tucano e permitir que se tente injustamente desconstituir a imagem de Lula junto à opinião pública.

O Brasil precisa saber se houve ou não ilícitos na atuação de Fernando Henrique e quais prejuízos trazidos ao erário público. O caso já mostra que a oposição não tem autoridade moral nenhuma para atacar líderes da esquerda. Esta é uma excelente oportunidade de fortalecermos nossas instituições e fazer o preconizado pela Constituição Federal, provando que a lei e a Justiça valem para todos!

*Deputado federal pela Bahia e líder do PCdoB na Câmara.