Em audiência pública da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, representantes de servidores de órgãos governamentais criticaram o que chamaram de interferências indevidas em critérios técnicos relacionados a pesquisas e obtenção de dados destinados a subsidiar políticas públicas.

O Ministério da Economia, a Casa Civil da Presidência da República e o BNDES foram convidados, mas não enviaram representantes.

A audiência foi solicitada pela presidente do colegiado, deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP), que apontou situações parecidas em diversos órgãos.

“A preocupação da comissão é de que esteja ocorrendo ingerência política e prejuízos à produção de dados do governo. Parece que há uma intenção de que a população fique desinformada e que o governo não quer ter as informações porque são muito ruins”, disse.

Servidores de órgãos como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo Censo, e outros da área do meio ambiente, como Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio) criticam intervenções em áreas técnicas.

Dione Conceição de Oliveira, da associação dos servidores do IBGE, apontou prejuízos para o Censo com a retirada, dos questionários, de quesitos como valor do aluguel, renda familiar e o tipo de rede de ensino (pública ou privada) da população.

“Uma variável fundamental para o cálculo do déficit habitacional é o valor do aluguel. Fica impossível calcular o déficit com a retirada do valor. Além disso, a definição da rede, se é pública ou privada de ensino, é necessária para saber qual a necessidade de escola pública no município. São informações insubstituíveis. Outra é a renda familiar, fundamental para localizar bolsões de pobreza”, disse.

Vitor Sarno, da associação dos servidores do Ibama, foi na mesma linha e anunciou a formação de uma frente de vários órgãos como reação ao que considera uma ofensiva contra dados científicos. “Estamos nos organizando com servidores de outros órgãos contra procedimentos idênticos: desmonte e questionamento de dados científicos, inclusive com notícias falsas”, disse.