Enquanto o mundo investe na busca de vacinas contra o novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comemora a suspensão dos testes da Coronavac no Brasil. Nesta terça-feira (10), em comentário em sua conta no Facebook, Bolsonaro classificou a interrupção dos testes pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como uma vitória pessoal.

“Mais uma que o Jair Bolsonaro ganha”, disse o presidente ao responder um seguidor que perguntava sobre as ações do governo na pesquisa sobre medicamentos para a Covid-19.

Para a líder do PCdoB, deputada Perpétua Almeida (AC), a declaração de Bolsonaro é “muito grave”, e caso seja identificada motivação política ou ideológica para a suspensão dos testes da Coronavac, o Congresso deve agir. “O Congresso tem duas providências imediatas a tomar: cassar o mandato do presidente da Anvisa e abrir o processo de impeachment contra Bolsonaro”, declarou.

Já são 56 pedidos de impeachment contra Bolsonaro na Câmara, mas até agora nenhum processo foi aberto pelo presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) afirmou que Bolsonaro sabota a busca pela vacina. “Bolsonaro sabotou os esforços de isolamento social e agora sabota a busca pela vacina. Temos um serial killer na Presidência da República”, criticou. "A politização da vacina às custas de vidas de brasileiros deve ser o passaporte de Bolsonaro para um julgamento por crimes contra a Humanidade", completou.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) também se manifestou em suas redes sociais. "Enquanto muitos ainda morrem, o presidente segue com sua guerra contra a vacina e com os ataques ao governador de São Paulo, João Doria. Bolsonaro é mercador da morte!", criticou.

A Coronavac vem sendo alvo de ataques de Bolsonaro. O imunizante contra a Covid-19 é desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo. O Ministério da Saúde havia anunciado a compra de 46 milhões de doses da vacina, o que foi prontamente desmentido por Bolsonaro, ao afirmar que o Brasil não seria “cobaia da vacina chinesa de Doria".

Na segunda-feira (9), a Anvisa suspendeu os testes clínicos após um "evento adverso grave" registrado no dia 29 de outubro. A agência não disse qual foi o problema relatado, mas listou que entre possíveis "eventos graves" estão reações sérias, morte, anomalia e internações prolongadas.

A suspensão dos testes é uma prática comum para esclarecimentos quando um efeito adverso grave é detectado. Outros testes de vacinas contra o coronavírus, como a desenvolvida em parceria entre a Universidade de Oxford e o laboratório sueco Astrozeneca, também já passaram por breves interrupções por eventos similares e foram retomados.

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, no entanto, afirmou tratar-se de um óbito sem qualquer relação com os testes do imunizante.