Bolsonaro voltou a agredir a imprensa nesta terça-feira (5), após ser questionado sobre as mudanças na Polícia Federal. O presidente mandou repórteres “calarem a boca” três vezes seguidas e criticou a Folha de S.Paulo, que trazia em sua manchete reportagem relacionada à mudança no comando da PF do Rio de Janeiro, logo após a nomeação do novo diretor-geral do órgão.

Nomeado na segunda-feira (4), o novo diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Souza, decidiu trocar a chefia da Superintendência da PF no Rio de Janeiro, foco de interesse da família de Jair Bolsonaro. Carlos Henrique Oliveira, atual chefe da PF no estado, foi convidado para ser o diretor-executivo, número dois na hierarquia do órgão. Durante sua fala, Bolsonaro foi questionado por jornalistas se havia pedido a mudança na superintendência da PF no Rio. Foi aí que ele disse para os profissionais calarem a boca.

Para a líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC), ao subir o tom contra a imprensa, Bolsonaro se comporta como um ditador e reforça a necessidade de investigação. “Será que tem algo a esconder? Mais uma vez, as ações do presidente indicam a urgência da instalação da CPI para investigar as denúncias que pairam contra ele e sua família”, afirmou a parlamentar.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que a atitude de Bolsonaro demonstra desespero e disse que “se Bolsonaro confirmou a troca do diretor da PF no Rio é porque tem algo muito importante sobre ele e sua família em jogo” e cobrou a instalação da comissão no Parlamento. “Bolsonaro tem que ser investigado já. O Congresso precisa abrir uma CPI para apurar as denúncias de Moro”, disse a parlamentar que também se solidarizou com os profissionais de imprensa agredidos pelo presidente.

Parlamentares cobram a investigação do presidente desde que Sergio Moro, então ministro da Justiça, convocou coletiva para denunciar, entre outros crimes, as interferências políticas de Bolsonaro na PF, antes de anunciar sua demissão da Pasta. As falas de Moro já resultaram na abertura de um inquérito contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) e no pedido de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso para averiguar as denúncias.

O ataque de Bolsonaro aos jornalistas trouxe à tona um episódio semelhante, vivido na ditadura. Em 1983, quando o Brasil já estava na “reabertura lenta e gradual”, o chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informação (SNI) general Newton Cruz mandou um jornalista se calar, o chamou de “moleque” e lhe deu uma chave de braço até que o repórter pedisse desculpas.

A cena ganhou as redes sociais depois do episódio revivido por Bolsonaro. O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) postou uma edição do vídeo em seu Twitter e afirmou que “Bolsonaro precisa entender que não é imperador e que o Brasil de 2020 não é o de 1964”. “Ele quer, mas não vai conseguir instalar uma ditadura. Cala a boca já morreu”, disse o parlamentar em sua conta.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) também criticou a ação de Bolsonaro. “Os jornalistas se tornaram alvos de ataques de Bolsonaro. Ele já ultrapassou todos os limites! É um absurdo e o Brasil não merece”, afirmou.

Já a deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP) afirmou que Bolsonaro tem problemas com a liberdade de expressão e com o trabalho jornalístico. “Não sabe conviver com a democracia e suas instituições/instrumentos. Não é somente a sua postura, em si, que não se coaduna com a de um presidente, é sua arrogância (misturada ao desespero) que não cabem no atual padrão civilizatório basilar. Não podemos mais ficar gastando energia com alguém assim”, afirmou.