A bancada do PCdoB na Câmara repudiou a participação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em ato realizado neste domingo (19) em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília. A manifestação, assim como outras já realizadas pelos apoiadores de Bolsonaro, pedia o fechamento do Congresso, criticava o Supremo Tribunal Federal (STF) e defendia a intervenção militar.

Para a líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC), a participação de Bolsonaro nesta manifestação teve uma gravidade “simbólica”. “ Pela Constituição, o presidente da República é também o comandante das Forças Armadas. Até os generais ressaltaram que o gesto foi “provocação” e “fora de hora””, destacou a parlamentar, em referência à reportagem publicada pelo Estadão, onde generais das três forças criticaram, em off,  a presença de Bolsonaro no ato.

Segundo os generais ouvidos pelo jornal, “as Forças Armadas são instituições permanentes, que servem ao Estado e não ao governo”.

Além da postura antidemocrática ao participar do ato, Bolsonaro, mais uma vez, quebrou as regras do isolamento social, defendido como principal forma de combate ao Covid-19. O presidente tossiu, cumprimentou apoiadores e, como outras vezes, colocou em risco a população. A postura foi criticada por políticos e magistrados.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), repudiou os atos e a postura de Bolsonaro. Pelo Twitter, Maia afirmou que pregar uma ruptura democrática durante a pandemia do novo coronavírus é uma “crueldade imperdoável” com as famílias das vítimas fatais da doença, que já ultrapassam duas mil pessoas, segundo dados do Ministério da Saúde.

“O mundo inteiro está unido contra o coronavírus. No Brasil, temos de lutar contra o corona e o vírus do autoritarismo. É mais trabalhoso, mas venceremos. Em nome da Câmara dos Deputados, repudio todo e qualquer ato que defenda a ditadura, atentando contra a Constituição”, escreveu o presidente da Câmara na rede social.

O deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA) classificou a postura de Bolsonaro como atitude de “miliciano”. “Bolsonaro partiu para a pregação aberta contra a democracia. Caso gravíssimo de crime de responsabilidade. Debocha da democracia, agride os demais poderes da República e se coloca como miliciano da ruptura na ordem constitucional. Uma atitude inaceitável! Repudio veemente!”, disse o deputado.

Em cima de uma caminhonete, Bolsonaro disse a seus apoiadores que "não vai negociar nada" e voltou a criticar o que chamou de “velha política”, mesmo oferecendo cargos ao chamado “centrão” para formar base ao Parlamento.
Para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), se a pauta da manifestação já era perigosa, a participação do presidente foi de uma “irresponsabilidade criminosa”. “Basta de pedir intervenção militar. É crime contra a democracia”, escreveu em sua conta no Twitter. a parlamentar também criticou a aglomeração dos apoiadores de Bolsonaro em plena crise sanitária.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) também condenou o ato. Para ela, é “inaceitável” a aglomeração em manifestações “lideradas pelo presidente da República, defendendo o AI-5, a volta da ditadura”. Segundo Alice, este tipo de postura enseja a “defesa da Constituição Federal e a solidariedade a todos os agredidos pela horda Bolsonarista”.

A participação de Bolsonaro no ato fez subir no Twitter as hashtags #ImpeachmentBolsonaroUrgente e #ForaBolsonaro. No entanto, para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), pedir o afastamento de Bolsonaro neste momento serve apenas para “ganhar curtidas nas redes sociais e dar base à narrativa de Bolsonaro de que não o deixam governar”. “O que Bolsonaro fez e faz não é mera retórica, é golpismo aberto. As instituições estão no limite, não podem piscar. Vacilar pode significar um mergulho no abismo. Bolsonaro deve sair do palanque e parar essa marcha insana que produzirá um genocídio no Brasil”, afirmou o parlamentar.

O deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE) também repercutiu a participação de Bolsonaro na manifestação. Para ele, “em vez de combater o coronavírus, Bolsonaro prefere atacar a democracia”.

Já a deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP) afirmou que Bolsonaro, mais uma vez, tenta desviar o foco do problema. Com uma curva ascendente de casos de Covid-19 e uma crise econômica em curso, o governo tem falhado em dar respostas à sociedade.

“Já estamos há uma semana em que o registro diário de mortes ultrapassa os 200. Estados já sinalizam colapso na saúde e o presidente me sai a ficar fazendo discurso defendendo golpe à democracia. Inacreditável. Há uma clara tentativa de desviar o foco da população em relação à grave crise sanitária, econômica e social por que passa o Brasil e a estratégia escolhida é criar constantes tensões para estimular um indesejado enfrentamento social. Vive a criar situações que incitam o embate e a divisão política no país. Já ficou evidente que Bolsonaro e sua equipe não dão conta de gerir o país e que não possuem soluções adequadas para as crises e, por isso, tentam “distrair” a população. A questão é: até quando teremos de suportar tamanha incompetência e crueldade em relação às pessoas?”, publicou em sua conta no Twitter.

Houve também reação do Supremo Tribunal Federal. O ministro Luís Roberto Barroso escreveu em sua conta no Twitter que “só pode desejar intervenção militar quem perdeu a fé no futuro e sonha com um passado que nunca houve".

Já o ministro Gilmar Mendes, também do STF, disse que "invocar o AI-5 e a volta da ditadura é rasgar o compromisso com a Constituição e com a ordem democrática".