“O que vai possibilitar a unidade da esquerda é o foco na agenda de resistência, de contestação à retirada de direitos e às privatizações. No Parlamento, nas ruas e nas redes sociais. Estamos com esse espírito”, disse, no programa Roda Viva Pernambuco.

Luciana destacou que, embora os partidos de esquerda não tenham marchado juntos na eleição para a Presidência da Câmara, devem atuar de forma coesa no combate à pauta regressiva do governo. “Sempre dissemos que a eleição da mesa é apenas um episódio, que não pode nos levar para uma agenda permanente de falta de unidade na ação política. Vamos nos pautar por restabelecer essa unidade, vamos virar essa página, e fazer valer o que nos uniu nas urnas e vai nos unir sempre, que é o conceito que a gente tem do papel do Estado”, afirmou.

Questionada sobre o apoio de seu partido à candidatura de Rodrigo Maia à Presidência da Câmara, a vice-governadora fez questão de esclarecer que, na eleição interna, nunca esteve em jogo um apoio programático, mas sim o funcionamento democrático do Legislativo.

Nesse sentido, ao invés de escolher marcar posição, se aliando a um candidato à esquerda sem chances reais de vitória, o PCdoB optou por apoiar alguém que, na sua avaliação, respeitaria a atuação da oposição e o regimento interno da Casa e garantiria espaços para o debate.

“Todos sabem que não temos afinidade programática ou ideológica com ele [Maia], especialmente do ponto de vista da agenda econômica – ele é um liberal convicto. Mas, na relação institucional, ele sempre cumpriu palavra, é uma pessoa democrática, que respeita a atuação da oposição, da minoria”, colocou.

Ela lembrou que a relação com Maia não é de hoje, vem desde a disputa anterior, na qual o deputado concorreu contra um candidato ligado a Eduardo Cunha. “Fomos para a redução de danos”, resumiu, lembrando que, naquele momento outros partidos de esquerda assumiram a mesma posição.

“Hoje vivemos uma situação mais adversa, depois da eleição da extrema-direita. No Parlamento, também somos minoria. O PCdoB achou que não valeria à pena marcar posição apenas. Ali não está em jogo a questão programática. Ali está em jogo a democracia”, justificou.

Luciana ressaltou ainda que, mesmo antes da disputa na Câmara, o PCdoB articulou a criação de um bloco, com PSB e PDT, de atuação perene, para se contrapor à agenda Bolsonaro no Legislativo. Mas a disputa na Casa findou por embolar os acertos.

Para a vice-governadora, é necessário unir mais que a esquerda, para enfrentar a plataforma do atual governo. “Temos que fazer uma frente ampla. Uma frente de esquerda só não resolve a pluralidade que há no Brasil, de pensamentos e opiniões acerca dos desafios brasileiros”, reiterou.

Ela comentou ainda a incorporação do PPL (antigo MR-8) ao PCdoB, que fez com que o partido superasse a cláusula de barreira. “Tem sido um processo rico e mútuo, de convergências sobre muitas questões, especialmente no que diz respeito à soberania nacional e contra a agenda do governo”, declarou.

Para Luciana, hoje, há forte disputa político-ideológica e de narrativa sobre os destinos do país. E o que está em jogo é o fortalecimento da economia e a defesa dos interesses nacionais. “Somos muito dependentes de commodities ainda. O que precisamos é nos inserir nas cadeias mais dinâmicas da economia, nas tecnologias portadoras do futuro. É um retrocesso abrir mão da Embraer, por exemplo. Não é uma empresa estatal, mas é inteligência brasileira. É correto o Estado, tendo a prerrogativa de ter uma golden share, vender 80% da Embraer à Boeing? E depois vender o restante, comprometendo o financiamento da Defesa?”, questionou.