Pessoas desmaiando em postos de saúde por falta de comida, revirando caminhões de lixo atrás do alimento de cada dia, pedindo ajuda nos sinais e nas ruas, explicitando a fome, o desemprego, e a falência da política adotada pelo governo Bolsonaro. Esse é o quadro de uma gestão que ignora as mazelas do povo, mesmo quando propõe a criação de um novo benefício assistencial. É o caso do Auxílio Brasil, programa que substitui o consolidado Bolsa Família, e terá fim em 2022, após as eleições.

Votado na última semana na Câmara, o Auxílio Brasil tem sido criticado por ser uma medida eleitoreira, incapaz de conter, por exemplo, o avanço da fome no país. As manchetes dos principais veículos destacavam na manhã desta segunda-feira (29) o desespero de brasileiros que têm ido aos postos de saúde pedir comida ou desmaiado nas filas para atendimento, reforçando o aumento de uma situação que havia sido abrandada no país desde a instituição de programas como o Bolsa Família e o Fome Zero.

“Quando um governo tem como escolha a política da fome, manchetes como estas se repetem. É muito triste saber que Bolsonaro acabou com o Bolsa Família, que era uma política consolidada, e criou o programa Auxílio Brasil, que deixou de fora 29 milhões de pessoas”, destacou a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA).

O líder da legenda na Câmara, deputado Renildo Calheiros (PE), lamenta que o novo benefício não atenda toda a população necessitada. “O povo precisa de ajuda urgente para garantir comida na mesa e sobreviver diante de tanta inflação e carestia. Quem ficou de fora do novo auxílio como irá comer?”, questiona Renildo.

Isso porque, além de substituir o Bolsa Família, o Auxílio Brasil foi a solução bolsonarista também para o fim do auxílio emergencial. No entanto, o novo programa não conseguirá atender a soma dos beneficiados nos dois benefícios, deixando milhões de brasileiros à mercê da própria sorte.

Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional apontam que 19,1 milhões passaram fome em um universo de 116,8 milhões que não tiveram acesso pleno e permanente à comida no final de 2020. À época, os famintos eram 9% da população, a maior taxa desde 2004.

Segundo o conselheiro consultivo da Rede, Mauro Del Grossi, 43,4 milhões de brasileiros não tinham quantidade suficiente de alimentos.

“É um quadro gravíssimo. Talvez o Haiti, quando teve um terremoto, teve uma situação parecida com essa. É um quadro dramático. 116, quase 117 milhões de pessoas vivendo em algum nível de insegurança militar, ou seja, 55% da população”, afirmou Del Grossi em audiência na Câmara na última semana.

Desse total, ainda segundo Del Grossi, 24 milhões, ou 11,5% viviam em insegurança moderada, onde os adultos comem menos do que precisam, ou do que desejam. “E outros 19 milhões de pessoas comem menos, inclusive as crianças comem menos do que precisam e do que têm necessidade”, observou.

Em entrevista ao Portal UOL, José Graziano, ex-ministro de Lula, ex-diretor geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e atual diretor do Instituto Fome Zero, afirmou que “não há uma política de combate à fome hoje no Brasil” e que o desmonte das políticas sociais está condenando o futuro de milhões de brasileiros.