As críticas acentuadas à Petrobras por conta dos aumentos sucessivos de preços dos combustíveis e ainda um pedido de CPI para investigar seus diretores não são apenas cortinas de fumaça para conter prejuízo eleitoral, mas também uma estratégia do governo Bolsonaro a fim de desgastar a imagem da empresa e entregá-la à iniciativa privada.

Para conseguir isso, uma tarefa nada fácil diante do prazo exíguo, Bolsonaro conta como aliado o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que nunca escondeu esse desejo.  “Se dependesse do meu voto, a Petrobras seria privatizada totalmente e não só seria vendida ações”, disse ele durante a sessão do último dia 31 de maio.

No final desse mesmo mês, em entrevista à Recorde News, Lira deixou claro o intuito após pressionar o governo para enviar ao Congresso um projeto de lei que permita a venda das ações da estatal.

“Temos como fazer isso agora privatizar a Petrobras? Penso que não. Pela polarização, pela necessidade de um quórum específico de mais de 308 votos, nós não teremos condições agora (…) Mas nós, agora, teremos condições, se o governo mandar, de vender parte das ações da Petrobras, isso subsidiado por um projeto de lei de maioria simples, no Congresso Nacional, e o governo deixa de ser majoritário”, propôs.

Para o líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Renildo Calheiros (PE), toda a movimentação governista colabora com o plano. “O governo Bolsonaro quer vender o patrimônio brasileiro. Na mira, está a Petrobras. Por isso, não me surpreende a estratégia de desgastar a imagem da empresa no país, como se ela fosse a culpada pela alta dos combustíveis”, considerou.

“O que querem está explícito: desmoralizar a Petrobras, desacreditar a Petrobras, a política que o Brasil desenvolveu esses anos todos para alcançar a autossuficiência em petróleo, e entregar a Petrobras para a iniciativa privada. Esse é o objetivo, o que aprofundará ainda mais a crise da elevação de preço de combustíveis, e Bolsonaro não é capaz de tomar qualquer medida para resolver esse problema”, avaliou o vice-líder do partido na Casa, Daniel Almeida (BA).

“Rapinagem”

A deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT, tem o mesmo entendimento. “Com Lula a Petrobras dava lucro, garantia gasolina barata e estava sob controle. Hoje, com esse presidente fraco e inútil, a rapinagem está preparando um golpe contra a empresa: criminaliza-la para vendê-la. O Congresso vai mais uma vez fazer o serviço sujo. Vergonhoso Artur Lira!”, criticou.

Petroleiros

Para a Federação Única dos Petroleiros (FUP), o objetivo do governo é de fato “abater a maior empresa do país” incentivado por Arthur Lira.

“A ameaça de CPI da Petrobrás é mais uma pauta bomba de Bolsonaro/Lira, direcionada à empresa, com objetivo definido: criar narrativa mentirosa de que a Petrobras é o problema. Trocas sucessivas de presidente e diretoria da estatal fazem parte da mesma estratégia em busca de destruição da imagem da empresa”, afirmou Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP.