O bolsonarismo amanheceu em alerta nesta quarta-feira (27). Isso porque uma operação da Polícia Federal cumpriu 29 mandados de busca e apreensão no inquérito que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre disseminação de fake news contra ministros da Suprema Corte. Entre os investigados estão o ex-deputado Roberto Jefferson, o empresário Luciano Hang (dono da Havan) e assessores do deputado estadual paulista Douglas Garcia (PSL) – todos aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O principal foco da operação é um grupo suspeito de operar uma rede de divulgação de notícias falsas contra autoridades, além de quatro possíveis financiadores dessa equipe. As ordens foram expedidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do inquérito das fake news, e estão sendo executadas no Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina. A investigação corre em sigilo.

Além de Hang, estão entre esses supostos patrocinadores o empresário Edgard Corona, dono da rede de academias Smart Fit, e o investidor Otávio Oscar Fakhoury, também alvos de busca e apreensão.

Deputados do PCdoB repercutiram a notícia. Em tom irônico, a líder da legenda, deputada Perpétua Almeida (AC), usou suas redes sociais para indagar se “Bolsonaro já havia parabenizado a PF nesta manhã”, em referência a ação do presidente em relação à operação do dia anterior que atingiu o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, desafeto declarado do presidente.

“Procurando aqui se o presidente Bolsonaro já parabenizou hoje a PF pela operação no inquérito que apura a quadrilha das fake News”, ironizou Perpétua. “A rede dos que financiam e espalham fake news sendo desmontada. ‘Mas eu digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda mentira [fake news] que tiverem espalhado’ Mateus 12:36”, tuitou a parlamentar.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também comentou a operação. Segundo ela, “hoje não é um bom dia para quem espalha fake news e ataca as instituições”. “Que sirva de exemplo para todos e todas que, voluntariamente, usam desse artifício para ferir a democracia. Vocês, que espalham ódio e mentiras na web, não representam o povo brasileiro. São minoria”, declarou.

Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB e novo aliado de Bolsonaro é investigado por fazer ameaças à democracia ao publicar uma foto com um fuzil “os traidores”. Ele passou a defender efusivamente Bolsonaro nos últimos tempos, aderindo, por vezes, ao discurso reacionário da extrema-direita. O próprio presidente da República chegou a ver e recomendar uma live em que Jefferson acusava o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de arquitetar um golpe parlamentar.

A operação também chegou ao blogueiro Allan dos Santos e à ativista Sara Winter. Allan dos Santos é apoiador de Bolsonaro e editor do site Terça Livre. Ele prestou depoimento à CPMI das Fake News, no ano passado, e negou receber verba oficial do governo para manter a página. Já a ativista Sara Winter lidera um grupo denominado 300 do Brasil, que formou um acampamento para treinar militantes dispostos a defender o governo Bolsonaro. Em entrevistas recentes, ela reconheceu que alguns de seus integrantes estão armados.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) defendeu a apuração e punição dos envolvidos. “Fake news não é liberdade de expressão. É crime! A operação da PF de hoje atinge um esquema estruturado que espalha ódio e mentiras na internet, atacando instituições e a democracia. Precisa ser investigado, precisa ser punido”, declarou.

Já o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) afirmou que espera que as ações da PF comecem a “desbaratar a quadrilha bolsonarista conhecida por ‘gabinete de ódio’”.

“A disseminação do ódio e da mentira nas redes, através de robôs e mercenários pagos com verba pública, é crime e não pode ser legitimada. As plataformas de redes também têm grande responsabilidade nesse quadro de horror, vez que, com seus algoritmos que manipulam dados pessoais, promovem e até direcionam buscas, contribuindo com a divulgação de tais conteúdos deletérios. Isso representa riscos reais à democracia”, disse.

As investigações da PF junto ao Supremo já identificaram indícios de envolvimento dos filhos de Bolsonaro no esquema. O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) são suspeitos no caso e o inquérito busca elementos que comprovem ligação e sustente o possível indiciamento deles ao fim das apurações.

A operação da Polícia Federal contra fake news mira também oito deputados bolsonaristas. Eles não são alvo de mandados de busca e apreensão, mas Moraes determinou que sejam ouvidos em dez dias e que suas postagens em redes sociais sejam preservadas. Trata-se dos deputados federais Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP), Daniel Lúcio da Silveira (PSL-RJ), Filipe Barros (PSL-PR), Junio do Amaral (PSL-MG), Luiz Phillipe Orleans e Bragança (PSL-SP), além dos deputados estaduais Douglas Garcia (PSL-SP) e Gil Diniz (PSL-SP).