Numa coletiva à imprensa, eles disseram que o ministro da Justiça, Sergio Moro, está “bancando” o advogado do presidente Jair Bolsonaro, que foi citado nas investigações do caso Marielle.

Moro pediu ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a abertura de inquérito para investigar um porteiro, testemunha do caso. 

Segundo o Jornal Nacional desta terça-feira (29), o porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, onde Bolsonaro mora no Rio de Janeiro, contou à polícia que horas antes do crime, em 14 de março, Elcio Queiroz, um dos acusados, afirmou que iria para a casa 58 do então deputado Jair Bolsonaro.

A líder da Minoria na Câmara, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), diz que Sergio Moro violou as leis do país, como a da separação de poderes.

“Ele não pode fazer o que fez: um oficio ao procurador-geral dizendo que deve chamar, puxar aqui para Justiça Federal a apuração da investigação. Ele não pode interferir indevidamente nesse processo”, criticou a deputada.

Segundo ela, os líderes dos partidos não aceitarão ingerência no processo e coação de testemunha, no caso do porteiro que precisa ser protegido.

“Não nos cabe aqui averiguar a veracidade ou não dos fatos. Nós não temos esse papel. Queremos que a investigação vá a fundo, o que importa é saber quem matou e quem mandou matar Marielle. Nós queremos Justiça, queremos que as coisas andem e que sejam esclarecidas. Quem era o Jair da casa 58?”, indagou.

O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) afirmou que será muito importante que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, permita que as investigações continuem sendo feitas pelos órgãos de investigação do Rio de Janeiro.

Para ele, se o STF tiver entendimento de que alguma autoridade seja investigada que se investigue, mas que não retire as investigações das instituições estaduais. “Não cabe uma testemunha ser investigada pela PF, porque esse caso não está na PF. Não cabe ao ministro da Justiça investigar uma testemunha”, disse.

Freixo diz que nesse momento não faz sentido interromper uma investigação que com todas as dificuldades conseguiu chegar ao assassino, apesar de considerar demasiados os 595 dias sem a conclusão definitiva do caso.

“Nós somos contrários a federalização da investigação. Nesse momento não faz sentido interromper uma investigação que com todas as dificuldades conseguiu chegar ao assassino. É verdade que se tem mais de uma linha de investigação, o que é compreensível”, disse o deputado. 

Para o líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), as lideranças dos partidos estão tendo o cuidado de evitar que se atribua a eles a condenação antecipada de qualquer um dos citados no caso.

“É extremamente grave o que foi divulgado, que foi apurado pelos órgãos de investigação e nós defendemos que a investigação continue nas mãos desses órgãos. Recusamos e não aceitaremos qualquer interferência externa, por exemplo, avocando-se o processo para a Polícia Federal”, disse.

O vice-líder do PL (antigo PR), Marcelos Ramos, defendeu que é preciso garantir a independência necessária do Ministério Público do Rio de Janeiro e da Polícia Civil para esclarecer os fatos.

“Até para esclarecer que não há envolvimento algum da família do presidente, agora obviamente que isso não pode ser coberto por uma nebulosidade com a tentativa de federalização do crime”, disse.

Segundo ele, os tiros que atingiram Marielle não atingiram só os companheiros dela, mas a democracia brasileira.

Moro no Senado

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), avisou que Sergio Moro terá que dar explicações sobre o episódio na Comissão de Fiscalização e Controle daquela Casa.

“Nós temos entendimento do equivoco cometido pelo ministro da justiça, porque sem ser advogado do presidente, utilizou o cargo para intimidar o depoente”, disse.

O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), diz que o ofício de Moro à PGR causou espanto. “Ele não pode ser lacaio do governo”, atirou.

Randolfe anunciou também a criação de uma comissão externa de parlamentares para acompanhar as investigações do caso Marielle.