O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a nomeação de Alexandre Ramagem para a diretoria-geral da Polícia Federal. A posse estava marcada para a tarde desta quarta-feira (29).

Moraes atendeu a um pedido do PDT, que entrou com um mandado de segurança no STF alegando "abuso de poder por desvio de finalidade" com a nomeação do delegado e amigo do clã Bolsonaro para o comando da PF.

A líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC), lembrou que Moraes também cuida dos processos relacionados às fake news e vem tentando garantir o andamento das investigações, que, segundo informações divulgadas pela imprensa, afetam a família do presidente da República.

“O mesmo ministro que cuida dos processos das fake news impede que Ramagem assuma. Ele é amigo íntimo da família. Então, me pergunto qual o interesse do presidente de retirar o ex-diretor que estava investigando esses processos e colocar Ramagem que é amigo? Não concordo com a judicialização da política em tempos de normalidade democrática, mas não estamos vivendo este momento. Nós temos um presidente que está preocupado apenas em proteger seus filhos. Então, considero que foi uma ação correta, pois é preciso deixar as instituições trabalharem e Bolsonaro não está gostando nada disso”, afirmou a parlamentar.

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) também compartilha da visão da líder da bancada. Apesar de discordar da judicialização da política, que segundo ele, “nos rendeu o lavajatismo e o bolsonarismo”, Orlando comemorou a decisão, pois entende que Bolsonaro tinha interesse em transformar a Polícia Federal numa polícia política para proteger os seus e perseguir adversários. “A ação ajuda a desmascarar as más intenções de Bolsonaro em politizar a polícia”, afirmou.

As tentativas de interferência política de Bolsonaro na PF foram denunciadas no dia 24 pelo então ministro da Justiça Sergio Moro. Nesta data, quando anunciou sua saída do governo, Moro afirmou que Bolsonaro estava preocupado com investigações em andamento no Supremo. De acordo com notícia veiculada no dia 25 pela Folha de S.Paulo, uma investigação comandada pelo STF em parceria com a PF tem indício de envolvimento de Carlos Bolsonaro num esquema de disseminação de fake news.

Em seu despacho, Moraes afirma que baseou sua decisão no comportamento de Bolsonaro, uma vez que “elementos apontam o interesse do presidente em nomear para o comando da PF um diretor que poderia fornecer a ele acesso a informações privilegiadas”. O perfil de Ramagem e sua proximidade com a família são citados como fatores secundários.

Em sua decisão, Moraes afirmou ainda haver "inobservância aos princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade e do interesse público".

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) também comentou a decisão do Supremo. Ela lembrou que no dia anterior o STF já havia aberto inquérito para apurar as denúncias feitas por Moro contra Bolsonaro e agora, o mesmo órgão impede a nomeação de Ramagem.

“Dias nada bons para a familícia. Acabou, Bolsonaro”, afirmou Alice Portugal.