Nomeado na quarta-feira (27) para a presidência da Fundação Palmares, instituição ligada à Secretaria Especial de Cultura, Sérgio Nascimento afirmou em suas redes sociais que o Brasil tem um “racismo nutella”, defendeu a extinção do feriado da Consciência Negra e declarou apoio irrestrito ao presidente Bolsonaro. 

Camargo também afirmou que a escravidão foi “benéfica para os descendentes” e atacou personalidades como a ex-vereadora do Rio Marielle Franco e a atriz Taís Araújo.

A nomeação faz parte de uma série promovida pelo novo secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, para quem Bolsonaro já disse ter dado total liberdade para montar a sua equipe.

As falas de Nascimento repercutiram no Congresso. Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), “é surreal” que a Fundação Palmares seja dirigida por alguém que nega a escravidão. “O perigo do governo Bolsonaro é não existir mais um país nas próximas eleições. Ele coloca pessoas com a missão de destruir as instituições que irão dirigir. É depredação do Brasil”, afirmou o parlamentar.

O vice-líder do PCdoB, deputado Márcio Jerry (MA), também se posicionou contra as declarações do novo presidente da Fundação Palmares. “As declarações do Sérgio Nascimento o perfilam ao lado dos capitães do mato, agridem a história, desdenham a atrocidade que foi o escravismo em nosso país, com repercussões negativas até hoje. Mais um celerado nesse antro comandado pelos Bolsonaros”, disse.

Para o parlamentar, as declarações do representante da entidade que deveria promover a ascensão de grupos socialmente minoritários são resultado da conduta do atual governo e fruto das relações que o presidente mantém com o poder paralelo que opera no país.

“A intimidade de Jair Bolsonaro com as milícias o fez resgatar uma espécie de ‘capitão do mato’ para dirigir a Fundação Palmares. Sim, os capitães do mato agiam em forma de milícias para manter preso ou capturar escravos que fugiam em busca da liberdade”, declarou.

Um abaixo-assinado criado na última quarta-feira (27), logo após a sua nomeação, já conta com mais de 40 mil assinaturas pedindo a sua destituição. Um dos signatários, inclusive, é o irmão de Sérgio Nascimento, o músico e produtor musical Oswaldo de Camargo Filho, o Wadico Camargo. Em sua página no Facebook, Wadico afirmou: “Se fosse para o bem da nossa raça!!! Era o primeiro a apoiar, mas para o mal do negro, sem chance. Para mim, raça é pátria, é alma! Eu sou negrão”.

O músico também disse sentir vergonha de Sérgio Nascimento. “Tenho vergonha de ser irmão desse capitão do mato”, declarou.

O novo presidente da Fundação Palmares é filho de Oswaldo de Camargo, especialista em literatura negra e militante do movimento. Autor de livros como “Raiz de um Negro Brasileiro” e “O Negro Escrito – Apontamentos sobre a Presença do Negro na Literatura Brasileira”, o escritor é um dos mais importantes representantes do gênero no país. Já foi coordenador de literatura do Museu Afro Brasil, em São Paulo, participou da primeira edição dos Cadernos Negros —importante publicação de literatura afro-brasileira— e foi homenageado com a medalha Zumbi dos Palmares, da câmara de Salvador. Por seus estudos sobre o poeta negro simbolista Cruz e Sousa, ele ainda recebeu, em 1998, da Secretaria de Cultura de Santa Catarina, a medalha de Mérito Cruz e Sousa.