Diz um ditado popular que o peixe morre pela boca. Já o atual governo pode ruir por seus tuites. Após revelação, pela Folha de S.Paulo, de um esquema de candidaturas-laranjas envolvendo o PSL, partido de Jair Bolsonaro, e Gustavo Bebianno, ex-presidente do partido e ministro, uma nova crise pairou no Palácio do Planalto – ou, no caso, no Hospital Albert Einstein. No entanto, foi um tuite – desta vez do filho caçula de Bolsonaro, o Carlos – desmentindo conversas entre Bebianno e o presidente, que colocou ainda mais fogo na lenha.

Carlos disse, em rede social, que o ministro mentiu ao afirmar que havia conversado três vezes com Bolsonaro —numa tentativa de negar a informação de que seria alvo de desgaste. Mais tarde, Carlos divulgou um áudio no qual o presidente da República se recusa a conversar com Bebianno: "Gustavo, está complicado eu conversar ainda, então não vou falar com ninguém, a não ser o estritamente essencial".

O próprio presidente endossou o ataque do filho ao ministro à noite, quando compartilhou a postagem.
Para lideranças comunistas, as trocas de farpas fragilizam ainda mais o governo eleito com base na ética e combate à corrupção.

“Bolsonaro retuitou a postagem do seu filho dizendo que o ministro Bebianno é mentiroso. Se Bebianno ficar no governo, Bolsonaro terá um ministro que mente, segundo admitiu. Se sair, o ministro aceita que mentiu. Se for "saído", quem preside o país é o filho caçula”, ironizou o líder comunista, Orlando Silva (SP).

Em entrevista à Record, Bolsonaro reafirmou não ter conversado com Bebianno. A expectativa do presidente era que o ministro pedisse demissão antes de sua alta do hospital para ter uma carta na manga para conter o impacto da denúncia. No entanto, isso não ocorreu e, segundo Bebianno, não acontecerá.

Bolsonaro evitou generalizar a crise envolvendo o PSL. "É uma minoria do partido que está envolvida nesse tipo de operação." O caso ganhou destaque em reportagem que trazia uma entrevista com o atual presidente da legenda, Luciano Bivar (PE). Em meio a polêmicas sobre falas machistas de Bivar relacionadas às mulheres na política, a reportagem revelou que o grupo de Bivar criou uma candidata-laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição. O dinheiro foi liberado por Bebianno, então presidente da legenda.

Maria de Lourdes Paixão, oficialmente, concorreu ao cargo de deputada federal. Teve apenas 274 votos, mas foi a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, mais do que o próprio presidente Bolsonaro e a deputada Joice Hasselmann (SP), que teve 1,079 milhão de votos.

A candidatura-laranja virou alvo da Polícia Federal, da Procuradoria e da Polícia Civil. O caso continuou sendo apurado pelo jornal, que revelou ainda que Bebianno liberou R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou parte do dinheiro para uma gráfica registrada em endereço de fachada. O ministro nega qualquer irregularidade.

Segundo informações da Folha, Bolsonaro irritou-se com Bebianno e chegou a gritar com interlocutores ao telefone de dentro do hospital.

A líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), aproveitou a lambança governamental-partidária-familiar para alfinetar Bolsonaro. “Afinal, governo Bolsonaro, você irá demitir Bebianno ou ficará tuitando (você ou seu filho?), numa espécie de lavagem de roupa pública e insinuando intimidações? Parece que a denúncia da reportagem da Folha sobre o suposto esquema de laranjas no PSL vai render mesmo”, disse.