A Comissão de Segurança Pública da Câmara aprovou, nesta terça-feira (13), um convite para ouvir Manuela d’Ávila sobre o hacker Walter Delgatti Netto, que confessou ter invadido os celulares de centenas de autoridades brasileiras.

O pedido, feito inicialmente pelo deputado Capitão Augusto (PL-SP), como retaliação depois que o PCdoB pediu que a Comissão de Ética Pública da Presidência da República investigasse suspeitas de que Moro teve acesso a inquérito da Polícia Federal, que é sigiloso, foi prontamente aceito e subscrito por parlamentares da Oposição, como a correligionária Perpétua Almeida (PCdoB-AC) e pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

“Não me passou pela cabeça que esta comissão gostaria de ouvir nossa ex-deputada Manuela d’Ávila. É extraordinário. Esse é mais um requerimento do tipo Glenn, que a gente gosta que venha. Inclusive foi muito interessante a vinda dele à Casa. Aliás, acho que será tão boa a vinda da deputada Manuela que já temos outros parlamentares querendo convidá-la. Vale lembrar que Manuela, a única a não ser investigada, também foi a única a colocar seu telefone à disposição da polícia. Ninguém mais teve coragem de fazer isso”, pontuou a parlamentar, que brincou com o presidente da comissão e autor do requerimento, e disse estar “enciumada” pela iniciativa.

Além de subscrever o requerimento, Perpétua sugeriu ainda a inclusão no requerimento de entidades como a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Associação Nacional de Jornais (ANJ), Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) para fomentar o debate sobre liberdade de imprensa, sigilo de fonte e fake news. No entanto, Capitão Augusto não aceitou a sugestão e manteve apenas o convite de Manuela no pedido.

Para o deputado Paulo Teixeira, a vinda de Manuela à Câmara será “uma honra”, pois ajudará a explicar a “fraude judicial” que as reportagens publicadas pelo site The Intercept Brasil estão revelando.

“Não podemos proteger um criminoso e ele está no Ministério da Justiça. Ele fraudou a justiça brasileira a ponto de sua fraude o beneficiar. Fraudou as eleições, prendendo o candidato mais competitivo, e virou ministro. Que ela venha falar sobre essa fraude judicial”, afirmou Teixeira.

Em suas redes sociais, Manuela afirmou que irá “amar” vir à Câmara falar sobre os crimes cometidos por autoridades do Estado brasileiro.

Em depoimento no dia 23 de julho, Walter Delgatti Netto, preso como suspeito de ter hackeado os celulares das autoridades envolvidas na operação Lava Jato, afirmou que foi Manuela d'Ávila quem intermediou o contato com o jornalista Glenn Greenwald. A ex-deputada publicou uma nota em seguida, na qual confirmou ter sido contactada por uma pessoa anônima no Dia das Mães, 12 de maio, logo após receber um alerta no celular de que seu aplicativo Telegram teria sido invadido.

Em entrevista à Sputnik Brasil no último final de semana, Manuela ressaltou a tranquilidade diante da situação. "Eu não tenho defesa, porque não sou investigada. E não tenho envolvimento, porque não sou parte. São dois termos que talvez os meus adversários usem porque querem tirar do foco o tema central. O tema central é que eu recebi denúncias de envolvimento de autoridades do Estado brasileiro em crimes muito graves. Parece evidente que nenhuma pessoa no mundo que recebe denúncias de crimes cometidos por autoridades do Estado denuncia a essas mesmas autoridades os crimes cometidos por elas. Então fiz aquilo que acho que qualquer cidadão de bom senso faria. Recomendei que, mesmo eu sendo jornalista, essa pessoa [o hacker] deveria procurar o melhor jornalista do mundo. Acho que fiz o certo", afirmou a ex-deputada.