O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta quinta-feira (17) a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), que revela que a fome voltou a crescer no país e atingiu 5% da população de 2017 a meados de 2018, ou seja, 10,3 milhões de brasileiros.

Na prática, significa que quatro em cada dez famílias não têm acesso regular a uma quantidade e qualidade suficiente de comida, precisando limitar o tipo ou a porção dos alimentos que vão à mesa ou até passar fome.

Os dados reforçam os prejuízos causados pelo golpe contra Dilma Rousseff, em 2016, que impôs ao Brasil uma agenda ultraliberal, baseada no corte de investimentos e de direitos sociais e trabalhistas. Além da vigência da Emenda Constitucional 95, que impôs o Teto dos Gastos, com congelamento de investimentos por 20 anos, em vigor desde o governo Michel Temer e apoiada por Jair Bolsonaro mesmo num cenário de pandemia. E botam em xeque um país que já chegou ser destaque em ações para erradicação da fome, e que, em 2014, finalmente saiu do Mapa Mundial da Fome, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

O vice-líder da Oposição, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), lamentou os dados apontados pela pesquisa do IBGE e responsabilizou o governo. “O Brasil, que poucos anos atrás era referência mundial em segurança alimentar, voltou ao Mapa da Fome. A responsabilidade é de um governo desumano, liderado por um sociopata que odeia o povo”, afirmou.

Já a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), vice-líder da Minoria, destacou que a situação fica ainda mais crítica nos lares chefiados por mulheres e negros. Segundo a pesquisa, em lares onde a mulher é a principal pessoa de referência da família, apenas 39% possuem acesso regular à comida em boa quantidade e qualidade.

“Bolsonaro será conhecido como o presidente que devolveu a fome ao Brasil”, alegou Alice.

Segundo o IBGE, dos 10,3 milhões de famintos no país, 7,7 milhões viviam em zonas urbanas e 2,6 milhões em regiões rurais.

"A fome voltou a se alastrar no Brasil e com ela a tristeza, principalmente nas zonas rurais e nos lares nordestinos. O levantamento não leva em consideração as pessoas em situação de rua, o que nos leva a conclusão de que esse número é ainda maior. É um dado triste mas inaceitável, a alimentação deve ser um direito básico de todo brasileiro. A insegurança alimentar é uma realidade que assola o país", destacou o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA).

Vale lembrar que há pouco mais de um ano, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a fome no Brasil seria uma “grande mentira”. “Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não”, afirmou o presidente na ocasião.