Os clubes de futebol brasileiros devem, juntos, cerca de R$ 4 bilhões em impostos à União. Esse é um dinheiro que poderia estar sendo investido nas áreas da saúde, da educação e da segurança, por exemplo. Isso ninguém contesta. São recursos que pertencem ao povo brasileiro e só não viraram escolas e hospitais devido à incompetência – ou até má fé – dos gestores dos clubes. Ou seja, dos próprios dirigentes.

No entanto, é um dinheiro, que sem a Medida Provisória que refinanciará tais dívidas, está perdido.

E é aí que reside uma das vantagens da MP do Futebol: dá uma porta de saída para os clubes e transforma um dinheiro perdido em recursos que podem ser usados em benefício da população.

Aliás, o refinanciamento de dívidas tributárias não é uma regalia dos clubes de futebol. Trata-se de um mecanismo que existe em praticamente todos os setores da economia, com montantes de valores ainda maiores que aqueles devidos pelos clubes.

Além disso, há contrapartidas importantes para a participação no programa. Os clubes devem manter-se dentro de determinados critérios. Não podem atrasar os pagamentos e nem extrapolar seus gastos com o futebol – que não podem exceder 80% das receitas. Também devem investir na formação de jogadores e no futebol feminino.

Por fim, a MP, apesar de não ter sido aprovada com seu texto original, mais apropriado e firme nas contrapartidas, toca em assuntos de grande relevância, como a transparência. Também tenta bloquear a perpetuação no poder dos caciques do futebol e prevê punição por atos de gestão temerária aos dirigentes.

Enfim, é hora de sermos pragmáticos, sem inocência ou radicalismo. Não faço parte da bancada da bola, sou um crítico feroz da política da CBF e também acho que as mudanças propostas pela MP são tímidas, mas oferecer uma porta de saída para os clubes e exigir contrapartidas sérias, como o fair play financeiro e a transparência de gestão, é uma forma inteligente de começar a passar a limpo o futebol brasileiro.

 

*Deputado federal do PCdoB, pelo Estado do Rio Grande do Sul