O governo do capitão Jair Bolsonaro chega aos cem dias nesta quarta-feira (10) com a sensação de crise permanente e ataques sistemáticos à Oposição, sobretudo nas redes sociais. Sem um projeto claro à nação, o governo tem agravado a crise econômica com o desemprego atingindo mais de 13 milhões de trabalhadores.

Nesse período, segundo levantamento do jornal Correio Braziliense, foram 28 crises que se desenrolaram por 40 dias, uma média de duas confusões por semana, sem contabilizar a queda recente de Ricardo Vélez do comando do Ministério da Educação, o segundo ministro a ser demitido. Aliás, a área de educação vive um verdadeiro caos.

Bolsonaro já é o mais impopular entre os presidentes que foram eleitos para o primeiro mandato a partir de 1989 (Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma).

“A população já sabe quem é Bolsonaro. Por isso, nesses 100 dias ele é o mais impopular entre todos os demais que foram eleitos na democratização do país”, disse o líder do PCdoB na Câmara, deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA).

O governo iniciou provocando um verdadeiro desmonte nos programas sociais como Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família e o Mais Médicos, sendo que este último, irresponsavelmente, provocou a retirada do país de aproximadamente quatro mil médicos cubano que garantiam atendimento básico às famílias de baixa renda dos mais distantes locais do país.

Além disso, atacou diretamente o setor produtivo com o fim dos ministérios da Indústria e do Trabalho, símbolos do processo de industrialização brasileira.

Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), os 100 dias de Bolsonaro têm como marca o improviso, a desorganização e a tentativa de intimidar os movimentos sociais, principalmente o sindical. “Trata-se de um governo atrapalhado, sem rumo, caminho e estratégia. E o que é mais grave é que o governo se basta em fazer disputas ideológicas pouco produtivas. Bolsonaro, nesses 100 dias, mostra que ainda não saiu do palanque. Fala para sua turma nas redes, que, aliás, se comporta muitas vezes como milícias virtuais. À Oposição cabe articular uma frente ampla para garantir direitos, democracia e o interesse nacional”, afirmou.

Indígenas e agrotóxicos

Há desmontes em todas as áreas. Contra os povos indígenas, Bolsonaro publicou decreto retirando a Fundação Nacional do Índio (Funai) do Ministério da Justiça para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. O ato também retirou da Funai a atribuição de demarcar as terras indígenas, repassando a responsabilidade para o Ministério da Agricultura, hoje sob comando de Tereza Cristina (DEM), que liberou indiscriminadamente o uso de agrotóxicos.

Previdência e Ciência e Tecnologia

Para acabar com a aposentadoria pública dos brasileiros e migrá-la ao sistema bancário privado, o governo elegeu como prioritário o Projeto de Emenda Constitucional da Reforma da Previdência.

Com um discurso de combate a privilégios, Bolsonaro e sua equipe tentam vender uma imagem de proposta “salvadora e necessária” para o equilíbrio das contas públicas. No entanto, os atropelos do governo colocam em risco a aprovação da sua “principal” pauta.

O governo de Bolsonaro prejudicou substancialmente também a área de ciência e tecnologia com um contingenciamento de 42% dos recursos para o setor. A medida atingiu em cheio o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), subordinado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

Segurança

Na chamada agenda de segurança, o governo Bolsonaro colocou em risco a vida dos brasileiros ao flexibilizar por decreto a posse de armas de fogo no Brasil, uma medida anticonstitucional.

Nessa área, ainda a imprensa internacional tratou como escândalo a escolha de Sérgio Moro para comandar a pasta do Ministério da Justiça, juiz que levou Lula à prisão e abriu caminho para a vitória eleitoral de Bolsonaro.

Na condição de superministro, Moro apresentou ao Congresso o chamado projeto de lei anticrime sob a alegação de endurecer o combate ao crime e à corrupção no país.

No entanto, juristas e especialistas na área dizem que o projeto pode agravar a violência policial, o encarceramento em massa e das perseguições contra adversários políticos, principalmente dos movimentos sociais.

Internacional

Outro ponto vulnerável do governo é atual política externa. Sem qualificação para o cargo, o chanceler Ernesto Araújo e o próprio Bolsonaro causam problemas constantes para imagem do país.

O governo, por exemplo, declarou sua intenção de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, o que levou de imediato a Arábia Saudita a descredenciar cinco frigoríficos brasileiros que exportam para o país.

Numa posição de subserviência aos Estados Unidos, bem evidente na viagem presidencial àquele país, o governo coloca em risco o agronegócio. A China, nosso principal parceiro comercial, já admite deixar de comprar produtos brasileiros.

*Portal Vermelho