O dia 24 de março amanheceu mais triste para os comunistas. Nesta madrugada, aos 81 anos, Haroldo Lima, ex-deputado federal, ex-presidente da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP) e histórico dirigente do PCdoB, faleceu, após complicações provocadas pela Covid-19.

Deputados da legenda lamentaram a perda de Haroldo para a doença que já vitimou mais de 298 mil brasileiros.
Para o líder da bancada do PCdoB na Câmara, deputado Renildo Calheiros (PE), o desafio será transformar a dor da perda em luta.

“O dia se tornou ainda mais triste, porque nós do PCdoB perdemos um dos nossos dirigentes históricos mais aguerridos: o ex-deputado federal, Haroldo Lima, que foi líder da nossa Bancada na Constituinte de 1988. Depois de vencer a ditadura militar, ele enfrentou intensa batalha contra o coronavírus, aos 81 anos, e nos deixou nesta madrugada. Haroldo partiu na véspera do aniversário de 99 anos do PCdoB, legenda que ajudou a construir, onde militou com ousadia e coragem para garantir avanços no Brasil nas últimas décadas. Sua trajetória permanecerá viva em nossas mentes e corações. Agora, nosso desafio é transformar a dor da significativa baixa do campo progressista em luta. O seu legado político estimula que estejamos ainda mais mobilizados em defesa dos interesses dos brasileiros, lutando em favor de vacinas, da economia e da democracia”, disse o líder do PCdoB.

A vice-líder, Perpétua Almeida (AC), também se manifestou. “Choram todos os democratas! Choram meus camaradas! Choramos todos nós pela perda de Haroldo Lima! A luta por democracia, justiça social e defesa do socialismo perde um dos seus maiores expoentes! Haroldo, presente hoje e sempre!”, declarou a parlamentar em sua conta no Twitter.

A deputada Alice Portugal (BA) também lamentou a perda do conterrâneo. “Perdemos Haroldo Lima para a Covid-19, mas ele vive e viverá eternamente na nossa luta e em nossos corações! Há pessoas que marcam de forma indelével a história e as nossas vidas. Entre essas insubstituíveis pessoas, figura em destaque Haroldo Lima. Nosso líder, professor, solidário amigo. Ele estará presente na saga do PCdoB e nos nossos corações libertários! Haroldo Lima, presente”, disse Alice.

Haroldo, que era engenheiro de formação, foi figura fundamental na luta contra a ditadura militar, sobrevivendo ao episódio conhecido como Chacina da Lapa, em São Paulo, onde morreram outros militantes do PCdoB, à época na ilegalidade. Foi preso, torturado pelo DOI-Codi. Ficou na prisão até a anistia de agosto de 1979, quando voltou para Salvador, onde seria novamente preso em 1981, quando dirigia lutas populares na capital baiana. Ainda assim permaneceu em diversas frentes de lutas a favor de pautas de interesse social, da liberdade, da democracia, até o último dia da sua vida.

Em seus cinco mandatos na Câmara dos Deputados, Haroldo defendeu o Estado Democrático de Direito de maneira aguerrida, estando sempre disponível à escuta popular. Nos últimos anos, como diretor-Geral da Agência Nacional do Petróleo, fez importantes contribuições na política de exploração do pré-sal, na promoção da cooperação entre a China e o Brasil e no desenvolvimento das relações bilaterais.

“Haroldo resistiu bravamente, mas infelizmente é uma vítima da Covid-19, que durante esta pandemia se agigantou por uma gestão ineficaz e genocida de um governo sem compromisso com o seu país, e que foi duramente combatida pelo nosso guerreiro. A Bahia e o Brasil perdem um grande líder político. E nesse momento de dor e tristeza, presto à família enlutada meus sinceros sentimentos e condolências. Haroldo, presente! Hoje e sempre!”, destacou o deputado Daniel Almeida (BA).

A deputada Jandira Feghali (RJ) também usou as redes sociais para prestar sua homenagem. "Haroldo Lima, você parte numa hora tão difícil pra nós. Calaram sua voz e suas ideias e nos deixaram órfãos. Um corajoso combatente, que enfrentou torturadores sem se curvar, que sempre soube quem eram seus adversários, travou suas lutas de frente, superou tantas adversidades. Agora é silenciado, sem a chance da despedida, da fala, do abraço, vitimado por um inimigo invisível, um vírus. A dor é grande, a saudade também e a sensação de injustiça é muito forte. É quase impossível falar ou escrever para me despedir de você, mas o faço neste texto porque, Haroldo Lima, você sempre estará com a gente! PRESENTE!”

O deputado Orlando Silva (SP) reiterou a dor da perda do correligionário e amigo. “É devastador receber a notícia da morte de Haroldo Lima. Comunista a vida inteira, grande patriota, sobreviveu à Chacina da Lapa, lutou incansavelmente contra a ditadura e pela democracia. Haroldo foi Constituinte, deputado federal, presidente da ANP. Uma perda irreparável. Um daqueles imprescindíveis que tombou. Seu exemplo de amor à pátria e ao povo brasileiro ficarão sempre como inspiração aos que lutam por um país soberano e uma sociedade justa. Viva Haroldo Lima!”, destacou.

A deputada Professora Marcivânia (AP), filiada ao PCdoB há cinco anos, lembrou que conheceu o dirigente nesse período e afirmou sentir não ter “tido o privilégio de conviver a mais tempo com ele”. “Pela alegria, generosidade, pelos exemplos. Penso que se fosse por sua vontade estaria sempre aqui para lutar conosco pelas grandes causas, dado seu compromisso, mas às vezes o corpo não obedece mais a vontade de nossa alma, portanto siga em paz Haroldo e saiba que sua história de vida, o ser humano lindo que eras estará sempre presente”, escreveu em sua homenagem.

Deputado licenciado da bancada do PCdoB e presidente da legenda no Maranhão, Márcio Jerry também se manifestou em suas redes sociais. “Perdemos todos um grande brasileiro. Uma pessoa que tem uma presença muita grande na luta pela democracia, pelos direitos do povo, na defesa da nação. É um momento muito triste”, disse.

Trajetória na Câmara

Após ter sido anistiado, em 1979, Haroldo continuou sua luta em defesa da democracia e contra a ditadura. Com o PCdoB ainda clandestino, filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e elegeu-se pela Bahia deputado federal em 1982. Naquela legislatura, o PCdoB teria, atuando no PMDB, mais três deputados – Aldo Arantes, Luís Guedes e Aurélio Peres –, de forma combativa no processo que encerrou o regime militar, marcado pelo grande movimento de massa conhecido como “Diretas já!” e pelo movimento popular que elevou à eleição de Tancredo Neves presidente da República. 

Com a legalização do Partido Comunista do Brasil, em 5 de agosto de 1985,  Haroldo Lima, Aurélio Peres comunicaram ao presidente do PMDB, deputado Ulisses Guimarães, a decisão de desligar-se do partido. A bancada do PCdoB seria liderada por ele. Dois dias depois, pronunciou pela primeira vez, depois de 37 anos, um discurso como representante da legenda no Parlamento.

Lembrou o último discurso de um parlamentar comunista, o deputado Maurício Grabois, proferido na Câmara no dia 7 de agosto de 1947, protestando contra a cassação dos mandatos comunistas. Lembrou também a participação dos comunistas no processo de transição democrática que se concretizou com a Nova República e, com a morte de Tancredo Neves.

Haroldo Lima seria reeleito pelos baianos por mais quatro mandatos. Além da sua qualidade de tribuno, destacou-se atuando em importantes comissões da Câmara dos Deputados. Foi vice-líder do PMDB e líder da bancada comunista, inclusive na Constituinte, além de integrar as comissões de Sistematização e de Redação, e liderou o bloco que unia o PCdoB e o Partido Socialista Brasileiro (PSB).

Em 2005, foi indicado pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo de diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Sua participação no processo de descobrimento do pré-sal e sistematização da sua exploração – como o regime de partilha – foi fundamental. A partir da ANP foi possível contribuir com o fortalecimento da Petrobras como importante instrumento para a soberania nacional e o desenvolvimento econômico e social do país. Participou também do desenvolvimento da política de etanol e biodiesel, para ele um importante patrimônio tecnológico nacional.

Seu conhecimento na área foi essencial nas batalhas travadas pelos correligionários na Câmara em defesa da Petrobras e contra os ataques à estatal à época, encabeçados pelo governo golpista de Michel Temer.

*Com informações do Portal Vermelho