No último dia 6, um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou que um funcionário do gabinete de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, teria movimentado “atipicamente” R$ 1,2 milhão em suas contas. O caso, até agora, não foi explicado pela família do presidente eleito e a ausência de manifestações da Justiça foi duramente criticada pela vice-líder da Minoria na Câmara dos Deputados, Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Para ela, parte do Ministério Público e do Judiciário brasileiro tem encarado denúncias de casos de corrupção no Brasil com dois pesos e duas medidas.

“Todos acompanharam as denúncias sobre os repasses de recursos à família Bolsonaro. Motoristas, filhos, esposas, cheques. Tudo isso distribuído, colocado em contas. Provas concretas. Cheques nominais. E nós não vimos nem um pronunciamento, nem do futuro Ministro da Justiça, nem vimos mostras de apurações do Ministério Público, nem da Justiça, nem vimos acontecer absolutamente nada”, criticou.

Jandira apontou a gravidade do ocorrido, lembrando que “por muito menos”, o Brasil viveu um impeachment “com motoristas, Elbas e coisas parecidas”, em referência ao processo de impedimento que afastou Fernando Collor em 1992.

A parlamentar comparou o caso à prisão do ex-presidente Luiz Lula da Silva, em abril deste ano. “Temos um ex-presidente da República, contra quem não há provas, encarcerado. Ele sequer responde a processo em liberdade, sequer consegue o direito a ir para sua casa, ou um habeas corpus, para que pudesse, em liberdade, responder às diversas acusações. E contra ele não há uma prova sequer. Ao mesmo tempo, nós vemos gestores, como o prefeito de Niterói, sem ser nem mesmo ouvido, e apenas por uma delação, sem nenhuma prova, ser preso em sua residência quando foi recém-eleito. Isso é algo para se indignar”, afirmou.

Segundo Jandira, o país vive um momento de judicialização da política e afirmou que o Congresso precisa reagir a isso. “Nós temos presos sem provas e provas sem nenhuma apuração concreta e sem prisão. Então nós estamos vivendo dois pesos e duas medidas, a depender da conveniência. Então, é muito importante que nós, aqui, comecemos a perceber o que ocorre no Brasil, porque denúncias contra quem interessa são colocadas 24 horas por dia na mídia brasileira e com consequências graves para os acusados, suas famílias e suas vidas políticas; e para aqueles a quem não interessa nenhuma repercussão, as denúncias são apagadas rapidamente do noticiário, e outras notícias surgem, para que desapareçam da opinião pública. Precisamos pensar em como aqueles que pensam a política e a democracia vão reagir a esse processo, já que até aqui nós não conseguimos reagir adequadamente a esses abusos e arbítrios”, disse.