Esta semana, o Brasil perdeu uma importante referência na luta contra a ditadura e pela igualdade social. Aos 95 anos, o arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, morreu, nesta quarta-feira (14), em decorrência de uma broncopneumonia.

A Bancada do PCdoB na Câmara lamentou a perda. Para o líder do PCdoB na Câmara, Daniel Almeida (BA), o arcebispo “se dedicou de forma intensa à luta por justiça social”.

“Dom Paulo é símbolo da defesa da democracia e dos direitos humanos. Se dedicou de forma intensa e profunda para organizar a luta dos mais pobres. Transformou a diocese em São Paulo, num centro de resistência na ditadura militar. Era uma voz que trazia conforto, alento, organização para a defesa da democracia. Fará muita falta”, afirma Daniel Almeida.

O deputado Chico Lopes (PCdoB-CE), presidente da Comissão de Legislação Participativa (CLP), também lembrou que a trajetória de Dom Paulo foi marcada “pelo seu compromisso com a democracia e com as pessoas mais necessitadas”.

Em 1966, Dom Paulo tornou-se bispo em um momento de renovação na Igreja Católica. Quatro anos antes, o então papa João XXIII deu início ao Concílio Vaticano II, que buscava redefinir o papel da religião na sociedade, com foco em uma nova orientação pastoral voltada para a resolução dos problemas sociais e econômicos. No Brasil, a cartilha ganhou força após a Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em 1968 em Medellín, na Colômbia.

As reuniões foram fundamentais para o desenvolvimento da Teologia da Libertação, preocupada prioritariamente com a promoção da justiça social. Atento à renovação, Dom Paulo abraçou a nova doutrina e o modelo descentralizado de comunidades. Assumiu a arquidiocese de São Paulo após o a omissão da Igreja nas torturas sofridas por Frei Tito durante a ditadura. Dom Paulo nunca se omitiu. Interferiu nas prisões do padre Giulio Vicini e da assistente social leiga Yara Spaldini pelo Departamento de Ordem Política e Social em 1971m quando foi pessoalmente ao Dops e testemunhou as agressões físicas sofridas por seus colaboradores.

No ano seguinte, a Assembleia da CNBB publicou o Documento de Brodósqui, um relatório que denunciava as prisões arbitrárias, a tortura e o desaparecimento de perseguidos políticos após a aprovação do Ato Institucional nº 5. E, a partir de 79, passou a celebrar missas com forte conteúdo político. O assassinato pelos militares do líder estudantil Alexandre Vannucchi Leme, da ALN, foi respondido com uma missa-protesto na Catedral da Sé para contestar a versão oficial apresentada pela ditadura para sua morte, segundo a qual o estudante teria sido vítima de um atropelamento.

Em 1975, ele organizou um ato inter-religioso em homenagem a Valdimir Herzog, torturado e assassinado pelos militares. A cerimônia serviu também para manifestar repúdio à versão de que o jornalista teria cometido suicídio.
Para a deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP), Dom Paulo foi “talhado para enfrentar tempos sombrios”.

“Sua fala doce e serena, não escondia a energia, a luminosidade humana na luta pelos direitos humanos em toda a sua profundidade e radicalidade. Esperamos que o sonho dele de uma sociedade libertária, igualitária e livre de toda e qualquer injustiça, em especial em favor dos menos favorecidos e dos vilipendiados, não lhe acompanhe ao túmulo.”

Além da resistência aos militares, Dom Paulo foi fundamental para a consolidação das Comunidades Eclesiais de Base, que buscavam substituir a supremacia das paróquias na organização da vida religiosa pela valorização de comunidades menores, com a presença tanto de integrantes da Igreja quanto de leigos. 

*Com informações de agências.