Em entrevista pelas redes sociais do Portal PCdoB nesta terça-feira (14), a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) denunciou Bolsonaro e seu governo pelas irresponsabilidades cometidas durante a pandemia do novo coronavírus. Enumerando ações e omissões do presidente e subordinados, Jandira destacou que o saldo deve ser mais mortes e uma crise econômica ainda maior do que a esperada.

“Ao invés de estar estimulando aglomeração para matar pessoas, Bolsonaro devia estar sentado naquela cadeira encontrando caminhos pra governar”, defendeu a deputada, mencionando ações como articulação com governadores, mobilização da indústria têxtil para fabricação de equipamentos de proteção – especialmente para os profissionais da saúde – e a articulação do uso de estruturas da Petrobras para fabricação de substâncias necessárias ao combate da pandemia.

“Estamos lutando contra quem despreza a ciência e a vida. É como se eles operassem pela eliminação das demandas [sociais], pelas demandas dos mais pobres. É algo muito próximo do fascismo mesmo”, definiu.

Perguntada pelo jornalista Oswaldo Bertolino sobre entraves criados pelo governo que atrasam a chegada de recursos para a população, Jandira destacou o caso da renda mínima emergencial. Apesar da rápida aprovação na Câmara, o governo não se mobilizou para organizar a operacionalização dos pagamentos.

“Eles levaram mais de uma semana para colocar um aplicativo no ar. E agora cada hora é um problema: falta CPF, nome da mãe, é fila no banco. Até agora a maioria não recebeu. É claro que as pessoas vão entrar em desespero”, ponderou Jandira.

Ela também lembrou do projeto aprovado para transformar a merenda que as crianças recebem nas escolas de educação básica em cestas para as famílias. “Tem escola em todo lugar. Era pra isso estar em prática e não para vermos notícias na TV das crianças passando fome. A impressão que dá é que é uma aposta mesmo no caos e no desespero”, protestou.

“O governo tenta fazer uma separação entre vida e empregos. Como se fossem separáveis. Como se a União pudesse trabalhar pela economia sem os governadores e prefeitos! Na verdade, Bolsonaro desrespeita a vida. Ele acha que “velho”, assim é que ele fala, idoso, pode morrer. Pratica a chamada necropolítica: ele quer escolher quem vive e quem morre, como se fosse Deus, como se ele pudesse fazer isso”, afirmou.

Pautas positivas

A união de amplas forças tem garantido a aprovação de iniciativas fundamentais para a vida do povo, ainda mais neste momento tão difícil.

Jandira mencionou a aprovação do estado de calamidade pública, “pra garantir todos os instrumentos e recursos para o governo”; a distribuição do fundo de participação dos estados e municípios como no ano passado e, nesta segunda-feira (13), a aprovação da compensação de impostos aos estados e municípios pelo governo federal, uma iniciativa que era muito cobrada pelos governadores e prefeitos.

“Veja que há alguns leitos federais no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, e uma quantidade administrada pelas universidades federais. Mas a maioria é administrada pelos estados e municípios. Então é fundamental  mandar dinheiro para os estados e municípios”, explicou.

“É ainda pouco porque não se trata de dinheiro novo. É reposição de arrecadação, mas os gastos aumentaram. Precisamos criar oportunidades de dinheiro novo para estados e municípios e precisamos tratar das dívidas que eles têm com entidades internacionais, por exemplo. Também precisamos de mais recursos para o SUS e para pesquisas, isenção de água e energia, proposições de proteção social”, lembrou.

Jandira mencionou entre pautas protetivas que mais de 15 mil médicos formados no exterior poderiam ser incorporados para lutar contra a pandemia; que falta debater propostas para aumentar a proteção das mulheres, vítimas crescentes de violência doméstica durante a quarentena e que é preciso incentivar a indústria e destinar recursos para a pesquisa.

A bancada do PCdoB apresentou algumas propostas que atendem a estas questões da proteção social: a própria Jandira propõe a quebra de patentes de fármacos; pela líder do PCdoB na Câmara, Perpétua Almeida (AC) tem atuado pela realização de um exame para validar diplomas dos médicos formados em outros países e  a proteção das mulheres é tema de projeto da deputada Alice Portugal (PCdoB-BA).

Nova agenda de futuro

De olho no futuro, a parlamentar comentou que “vai ser difícil, ainda mais com este governo”, mas que é preciso mudar o foco das ações, aumentando a presença do Estado na vida das pessoas, quando a pandemia passar.

“O capital internacional vai sair da pandemia buscando recompor seus interesses. E vai sobrar pro mundo em desenvolvimento. Mas não dá pra ser com a agenda anterior. Precisamos nos proteger. Será que depois da pandemia o SUS vai ser mais respeita ?Será que precisaremos de outra pandemia pra ver o tamanho da nossa dependência? Será que não vamos entender a necessidade de um complexo pra produzir insumos de saúde?”, provocou Jandira.

“Precisamos de outra agenda de desenvolvimento nacional”, afirmou, ponderando que “em tempos de ‘economia de guerra’ vemos aqui como a nossa dependência pode nos matar, e literalmente. Temos de gerar economia que nos sustenta e pensar principalmente na vida dos brasileiros que precisamos defender”.