Uma sequência de áudios de Jair Bolsonaro e Gustavo Bebianno, publicada nesta terça-feira (19) pela revista Veja, coloca em xeque a versão de Bolsonaro de que não havia conversado com o seu então ministro na última semana sobre o caso envolvendo candidaturas laranjas do PSL nas eleições de 2018. Para deputados do PCdoB, a troca de mensagens de áudio pelo WhatstApp demonstra a fragilidade do governo e levanta suspeitas sobre o real motivo da demissão de Bebianno.

“Isso tudo revela a fragilidade de Bolsonaro. Revela que ele estava mentindo. Ele é sinônimo de crise, uma crise permanente e isso não pode dar certo”, afirma o deputado Daniel Almeida (BA).

Nas mensagens, Bolsonaro repreende Bebbiano por marcar audiência com representante da Globo, o acusa de vazar informações para a imprensa e o ameaça ao dizer que a PF investigará as candidaturas laranjas. Bebianno tenta acalmar Bolsonaro e afirma que o "capitão" está "envenenado".

Para a vice-líder do PCdoB, deputada Alice Portugal (BA), o vazamento dos áudios é mais um capítulo “na novela de um Brasil desgovernado”. A parlamentar afirmou ainda que a troca de mensagens coloca uma dúvida sobre o real motivo da exoneração de Bebianno.

“Está tudo combinado. Não sabemos a exata questão da queda de Bebianno: se foi o enfrentamento das milícias no hospital do subúrbio carioca, se foi o laranjal que ele ajudou a alimentar ou se quem governa o país não é a farda, não é a toga, mas o clã de Bolsonaro. Se for assim, estamos em péssimas mãos”, alerta a parlamentar.

Alice lembra que além das denúncias relacionadas às candidaturas laranjas e a troca de farpas com filho caçula de Bolsonaro, Bebianno bateu de frente com o esquema de milicianos que funcionaria no Hospital Federal de Bonsucesso, na zona oeste do Rio de Janeiro. Desde antes da posse de Bolsonaro, o ex-presidente do PSL já tinha alardeado que uma das prioridades do governo seria acabar com o controle dos milicianos no hospital.

”Chega ao ponto de as pessoas que precisam de tratamento terem de pegar senha com milicianos, que determinam quem vai ser atendido ou operado”, disse ele, em entrevista ao Estadão, publicada em 20 de dezembro.

Na época, não tinha sido revelada a relação da família Bolsonaro com as milícias da Zona Oeste, onde o ex-assessor de Flávio Bolsonaro tinha grande influência. O caso teve repercussão depois que o Ministério Público do Rio de Janeiro deflagrou a operação que levou milicianos à prisão, em janeiro. Soube-se então que um dos líderes da milícia, o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, estava presente no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A mãe e a mulher de Adriano tinham sido assessoras de Flávio, com salário em torno de R$ 6 mil.

Adriano e um dos comparsas, o major Ronald Paulo Alves Pereira, também tinham sido homenageados por Flávio, com diploma de mérito, e um deles recebeu a Medalha Tiradentes, uma das maiores honrarias concedidas pelo Legislativo do estado.

O caso poderia ser o real motivo da “fritura” de Bebianno, uma vez que as candidaturas laranjas de Minas, envolvendo o ministro do Turismo de Bolsonaro, Marcelo Álvaro Antônio, não tiveram o mesmo fim do ex-ministro da Secretaria-Geral.

Para o deputado Mário Jerry, os desdobramentos da nova crise deixam claro que este é “um governo em destruição, apodrecido”.