Foram quase nove meses de artimanhas, manobras e manipulações para resistir no centro do poder na Câmara dos Deputados. Após resistência intensa diante de chantagens, o Conselho de Ética finalmente conseguiu aprovar por 11 votos a nove parecer pela cassação do presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nesta semana. Com esse resultado, crescem as chances de que o peemedebista seja cassado no plenário.

A decisão do colegiado é estratégica por permitir a escolha de um novo presidente. Isso pode ajudar na retomada do funcionamento mais normal possível dos trabalhos da Câmara, tendo em vista que Cunha perde efetivamente o comando do órgão. Mesmo afastado do mandato pelo Supremo Tribunal Federal (STF) desde o início de maio, ele continuou manobrando por meio de telefonemas e pressões a subalternos para orientar as atividades da Casa, conforme os seus interesses. A onipresença é tão marcante que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão para evitar obstrução da justiça.

Acuado, Cunha ameaça agora levar 150 deputados federais, três senadores e um ministro para a lama que o cerca. Ele tinha muito poder no Congresso e usava disso para obter vantagens pessoais e políticas nada republicanas. É inacreditável também o grau de submissão de Michel Temer (PMDB) aos caprichos do colega de legenda. O presidente interino fez de tudo para tentar salvar o mandato de Cunha, porque dependia dele para ter influência e aprovação na Câmara, o que é muito grave.

Apesar de a perspectiva de cassação ser uma vitória para a sociedade brasileira, é muito triste se vier a se concretizar tarde mais. Pode ocorrer em um prazo de 40 dias. Se não fossem os atropelos e a obstinação de Cunha em derrubar a presidenta Dilma Rousseff, o impeachment não teria sido aprovado na Câmara e avançado para o Senado. Mesmo sem existir crime de responsabilidade, Dilma foi afastada da Presidência da República em um jogo espúrio.

O custo deste retardo em neutralizar essa figura nociva é muito alto para os brasileiros. Com aval de Cunha, em pouco mais de 30 dias, o governo golpista de Temer já mostrou a que veio. O objetivo é implantar uma nova política de estado de cunho neoliberal, projeto político rejeitado nas eleições de 2014, com enxugamento de direitos sociais e trabalhistas. E a corrupção? Persiste entranhada nos altos escalões governamentais, com direito a ministro articulando o combate à Operação Lava Jato.

Chegou a hora de o povo decidir o destino da nação para impedir graves retrocessos econômicos e sociais. Estamos juntos com a presidenta Dilma no chamamento de um plebiscito, uma consulta popular para decidir se o melhor caminho é antecipar ou não as eleições presidenciais. Não se cale! Ocupe as redes e as ruas! A nossa luta será decisiva.

*Deputado federal pela Bahia e líder do PCdoB na Câmara.